Que vivemos um
momento de crise sem precedentes ninguém parece discordar. O desemprego avança,
o crescimento e os investimentos estão estagnados, a dívida pública cresce,
direitos trabalhistas regridem, a miséria volta a fazer parte do nosso
cotidiano, o fascismo, o ódio e a violência revelam-se sem escrúpulos, a
juventude demonstra que não acredita nos benefícios da educação nem no futuro
do país, prefere vias alternativas para a sobrevivência ou sair do Brasil. Mas
isso não é tudo. Os políticos e o judiciário nunca estiveram tão
desmoralizados, a mídia nunca foi tão facciosa, o cidadão comum nunca esteve
tão confuso diante de informações tão manipuladas ou mesmo propositalmente
falseadas.
É bom que nos
perguntemos: como chegamos a isso? E ao procurar respostas, é bom que tenhamos
consciência de qual, ou quais cérebros estamos empenhando nessa procura: o
cérebro ancestral reptiliano, que é movido a instintos básicos de sobrevivência
e domínio territorial? o cérebro límbico, que é movido a laços de sangue,
amizade e mesmo compadrios, estes muitas vezes ilícitos? ou o neocórtex,
responsável pelo raciocínio lógico, a reflexão capaz de estabelecer relações de
causa e efeito?
Do necessário equilíbrio
de desempenho destes três cérebros nascem a coragem, a empatia, a compaixão, o
discernimento. Qualidades imprescindíveis se almejamos uma sociedade mais
justa, mais solidária, mais humanizada. Caso contrário podemos descambar para o
ódio, a segregação, o nepotismo ou a crueldade e a dominação aparelhadas pela
ciência.
Neste momento
peculiar que vivemos no Brasil muito se tem falado das razões da crise. Fala-se
na herança maldita deixada pelos governos anteriores, fala-se na incapacidade
do partido que dirigiu o país de fazer autocrítica e reconhecer seus erros.
Diante da crise que vivemos hoje, é imperioso que saibamos fazer crítica
imparcial. O partido que dirigiu o país cometeu erros? Certo que sim, talvez o
maior tenha sido submeter-se aos poderosos e afastar-se da população que o
elegeu. E não conseguiu apoio popular no momento de enfrentar a sabotagem que
lhe foi movida. O principal partido que estava na oposição cometeu erros? Tasso
Jereissati, seu conceituado ex-presidente, acaba de reconhecer na mídia vários
erros graves: a contestação do resultado eleitoral, objeção que estremeceu a
democracia; o apoio a pautas-bomba que impediram o governo de governar; o apoio
ao governo Temer que traiu o programa que o elegeu e aprofundou a crise; o não expurgo
do senador presidente do partido Aécio quando este foi flagrado em conversas e
acordos inadmissíveis para um homem público de bem.
Mas a crítica
e a avaliação da crise que vivemos não devem restringir-se aos políticos e seus
partidos. Já se tem visto a grande mídia questioná-los amiúde. E quem tem
questionado a grande mídia? Quem tem questionado as corporações nacionais e
internacionais, as associações e lobbies de empreendedores? E quem tem
questionado o papel desse ente quase fabuloso, o intangível mercado? Quem tem
questionado interesses internacionais empenhados em fazer fracassar o Brasil
próspero e soberano, pois a eles interessa ter-nos como permanente colônia com
mão de obra barata, exportadora de matérias primas sem valor agregado para
depois importá-las industrializadas?
O momento que
vivemos parece colocar o Brasil numa encruzilhada: ou escolhemos um caminho de
violência e ódio, ou um caminho de submissão aos rapinantes interesses
internacionais e seus prepostos locais, ou um caminho de justiça social e
soberania nacional. O equilíbrio entre nossos cérebros, o reptiliano, o límbico
e o neocórtex, deverá ajudar-nos a fazer uma análise equilibrada. Não podemos
continuar agindo em política como passionalmente agimos com o futebol, a
religião, os ídolos das artes marciais.
Oxalá logremos
esse equilíbrio. Oxalá acordemos para o papel que têm exercido entre nós todos
esses grandes protagonistas da nossa realidade: os partidos e seus políticos, o
judiciário, a grande mídia, as corporações e lobbies de empreendedores, o
mercado, os rapinantes interesses internacionais e seus prepostos nacionais.
Mas, sobretudo, que logremos ser capazes de avaliar o papel mais importante: a
nossa própria conduta e exemplo, o nosso voto.
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