Nós humanos nos consideramos animais racionais. Afinal, temos o neocórtex
maior que outros animais, é ele que nos faculta raciocinar, estabelecer
relações de causa e efeito, encadear informações, fazer previsões, calcular.
Embora muitas vezes animais pareçam ter mais juízo do que nós.
Esquecemo-nos que além do neocórtex maior temos ainda os cérebros reptiliano
e límbico. Eles propiciaram que nossos ancestrais vencessem as barreiras
impostas pela seleção natural, de agressividade e de cuidado parental para a
sobrevivência. Ainda somos mais agressivos e emotivos do que racionais. Por isso
tantas vezes ouvimos que antes de uma ação precipitada temos que contar até
dez. É um tempo que damos para que a reação do neocórtex equilibre a reação do
réptil e do símio dentro de nós.
Esta natureza tríplice, réptil, primata, humana, é muito manipulada por
aqueles nossos congêneres que usam o raciocínio para explorar os semelhantes e
para manter-se no topo da pirâmide de privilégios. Uma das ciências mais
fomentadas é a que estuda o comportamento humano, sobretudo o comportamento
reptiliano e límbico. Ao lograr estimular reflexos condicionados, é possível
induzir ao consumo, às ideologias, à subserviência, à omissão.
Terra plana, criação do mundo em sete dias e do homem no sétimo, armas melhoram
a segurança, diminuir salários, aposentadorias, investimentos melhora a
economia, a educação forma subversivos, a censura no ensino, na cultura, nas
artes soluciona impasses sociais, concentrar a renda para os privilegiados
fortalece a sociedade, curvar-se ao jugo da grande águia do norte irá nos
salvar, funcionários públicos (e professores!) são parasitas que debilitam o
país... É um rol sem fim de absurdos tidos como verdadeiros por parte significativa
da população e dos nossos dirigentes. Como é possível? O neocórtex não está discernindo?
O neocórtex deve estar funcionando, mas não discernindo. Há muita
engenhosidade por trás do convencimento que é preciso ter um carro novo a cada
ano, um celular novo a cada seis meses, roupas novas a cada mudança da moda. E
ao mesmo tempo ocultar que o planeta está extenuado, já nos dá evidentes sinais
de que não dá conta de neutralizar os impactos da presença humana.
Assim como há muita engenhosidade (ou manipulação?) para convencer-nos
que pode ser bom um governo segregacionista, que estimula o ódio até entre
irmãos, que acha que a natureza atrapalha a economia, que julga que é
proveitoso submeter-se à potência imperialista que brada ─ Nós primeiro! ─ para
melhorarmos, que entrega nossos ricos recursos naturais para transnacionais
rapinantes, que louva o armamentismo, a tortura, a ignorância, o milicianismo...
Acreditar que a Terra é plana, ou querer convencer outros disso, é só um
sintoma. De que a razão provida pelo neocórtex não está funcionando bem. Ou
está ausente, então é a bestialidade dos animais, ou descolou-se do sentimento
que pode ajudar-nos a ter empatia com nossos semelhantes humanos.
Belo texto, Mário.
ResponderExcluirExcelente texto. Vou compartilhar... Obrigada!
ExcluirMuito bom, pai!
ResponderExcluirO que falta é obediência as leis.
ResponderExcluirDecisões extremistas e egoístas conduzem ao caos em todos os níveis de uma sociedade. Quanto maior a comunidade maior serão as regras para que possa haver uma convivência harmônica. A intolerância conduz a discórdia.