Publicado no Jornal da Manhã em 06/08/2024.
O que está de verdade acontecendo na Venezuela após a
eleição de 28 de julho passado? Garimpando o que parecem ser os fatos,
principalmente na mídia dita alternativa, consegue-se saber alguma coisa: as
apurações começaram normais, as tais atas eram divulgadas regularmente, e davam
vitória à oposição; um ataque hacker
vindo da Macedônia do Norte (!!!!) interferiu no sistema de apuração, impedindo
a divulgação das atas restantes, a grande maioria; as primeiras atas divulgadas
eram de redutos oposicionistas, elas não permitiam uma projeção dos resultados;
mesmo sem as atas, o governo declarou a vitória de Maduro, aparentemente
baseando-se nos boletins de urnas, mas sem as atas que os confirmassem; a
oposição alegou fraude, afirmou que o resultado anunciado era falso; EUA e seus
aliados, principalmente a Europa Ocidental, reconheceram a vitória da oposição;
Rússia, China e outros reconheceram a vitória de Maduro; Brasil, México,
Colômbia e outros esperam pela divulgação das atas para enfim se manifestarem
sobre a eleição.
Mas faltam muitas informações verídicas nesse imbróglio!
Quem promoveu o ataque hacker a
partir da Macedônia do Norte? Elon Musk? A quem esse ataque interessava? Como
podem EUA e outros reconhecerem a alegada vitória da oposição? Com base em que
dados? E como podem Rússia e China reconhecerem a anunciada vitória de Maduro?
Por quais motivos não nos chegam dados seguros do que realmente aconteceu?
Não é novidade que os EUA sabotam o governo e a
estabilidade venezuelanos, desde que nosso vizinho sul-americano assumiu o
controle do petróleo do país, as maiores reservas do mundo da principal fonte
de energia. Não é novidade que os EUA patrocinam, direta ou indiretamente, a
sabotagem de governos e países que tentam manter-se soberanos, sem submeter-se
ao mando da nação que perpetrou o maior ato terrorista da história: as bombas
de Hiroshima e Nagasaki. Não é novidade que os EUA promovem guerras, golpes e
lawfares (Vietnam, Irã, Coréia, Chile, Iraque, Cuba, Argentina, Afeganistão, Líbia, Síria, Paraguai,
Brasil, Ucrânia, Palestina...) para proteger seus interesses econômicos e
geopolíticos, favorecendo suas transnacionais e o deus mercado. Não é novidade
que o “espectro da total dominação”, a ambição estadunidense de ser uma
potência hegemônica, conduz à desinformação, à ignorância e ao extremismo, que
engendra regimes autoritários mundo afora.
E a grande mídia, o que tem feito? Aqui entre nós, só se vê
uma servil vassalagem à desinformação, que interessa aos EUA e seus agregados.
Não se consegue ter acesso a duas opiniões. Só a opinião de que Maduro é um
ditador, a Venezuela uma ditadura, a eleição uma fraude. Que vergonhoso papel
da grande mídia e seus profissionais. Poderiam ao menos dar voz aos dois lados
do imbróglio; não o fazem porque não estão comprometidos com a verdade, mas sim
com alinhamentos fisiológicos que vêm de longe.
O imbróglio na Venezuela está personificando hoje os
absurdos a que a ambição hegemônica dos EUA, e a subserviência da grande mídia,
podem conduzir.
Uma boa reflexão. Tomara que a verdade apareça, se é que vão deixar ela aparecer.
ResponderExcluirRilka Bandeira