A Prefeitura de Ponta Grossa anuncia o desassoreamento do
Lago de Olarias, e o faz como se fosse um trabalho de prevenção, e não o
conserto de um erro. Que disparate! O assoreamento visto no lago é prova de um erro,
cometido quando da inauguração do Parque do Lago de Olarias sem a adequação da
bacia de captação. E este erro não é só quanto à erosão de solos expostos, fonte
dos sedimentos que assoreiam o lago. É também quanto à indevida captação de
esgotos na rede pluvial, destinada a recolher as águas das chuvas, erroneamente
descarregadas no lago.
Inaugurar com estardalhaço um parque municipal que toda a
população vê é uma coisa. Planejar corretamente o uso da bacia de captação,
evitando a erosão do solo e o desvio de esgotos, medidas que os olhos não veem,
é outra coisa. Os olhos não veem o erro de planejamento, mas enxergam suas
consequências: no assoreamento do lago e na poluição das águas dos arroios que
o alimentam.
Desassorear é um serviço caro para os cofres públicos. E,
acabado o serviço, já está em curso o processo de voltar a assorear, se não se
evitar a erosão dos solos na bacia de captação. E se não for feita a varrição
das ruas e a eficiente coleta de lixo. Desassorear sem cuidar da bacia de
captação é como enxugar gelo. Mas as empresas contratadas para o serviço devem
agradecer muito que os arranjos sejam feitos assim. Já o munícipe contribuinte,
continua pagando seus crescentes impostos.
Como evitar o assoreamento? Os sedimentos depositados no
lago provêm da erosão de solos expostos na bacia de captação. Nas áreas
urbanas, a exposição de solos resulta das muitas obras: edificações, vias,
dutos, loteamentos, etc. Há várias razões para evitar a erosão: descontrole de feições
erosivas, entupimento de dutos pluviais, assoreamento de canais fluviais e
lagos a jusante. Por esse motivo, os municípios precisam ter legislação eficaz
que evite a exposição dos solos à erosão. E fiscalização/sanções igualmente
eficazes. Caso contrário, após um trabalho de desassoreamento logo o lago
voltará a ficar assoreado.
A questão da poluição por esgotos é outra que não tem sido seriamente
abordada. As cabeceiras da bacia de captação do Lago de Olarias alcançam a
região central da cidade. Bicentenária como é Ponta Grossa, por mais que serviços
recentes tenham implantado ampla rede de captação de esgotos, muitas vezes
ligações antigas, até desconhecidas, continuam despejando nas redes de captação
de águas das chuvas, que vão parar no lago. Seria necessário um minucioso,
longo e complicado trabalho de verificação e correção. Um serviço demorado, importuno,
invisível para o público em geral. Mas um serviço que significaria entender o
que seja de fato sustentabilidade.
Melhor seria que os recursos públicos fossem empenhados na
adequação da bacia de captação, da legislação municipal e na formação de
equipes capazes de aplicar a lei. O desassoreamento agora é sim necessário. Mas
é o conserto de um erro, cometido antes. Que ele sirva para se aprender a não
mais cometê-lo.