sábado, 26 de maio de 2018

Herança maldita



Nestes dias de paralisação dos caminhoneiros, tenho me surpreendido com o tanto que tenho visto na web, nos jornais escritos, em conversas, a atribuição da culpa ao que está acontecendo ao governo Dilma, que teria quebrado a Petrobras, que agora se vê obrigada a reajustar o preço dos derivados do petróleo diariamente. Uma herança maldita dos governos anteriores. Junto com a profusão de afirmações como esta, vejo cada vez mais adesivos do Bolsonaro presidente, e de pedidos de intervenção militar.
Vamos refletir sobre a Petrobras. Graças a uma política de autonomia, grandes investimentos e a tecnologia de ponta desenvolvida no Brasil para prospecção e extração de petróleo em águas profundas, a Petrobrás “descobriu” os enormes campos petrolíferos do pré-sal, em 2007. A existência dessas grandes acumulações de petróleo já era prevista pela teoria da Tectônica de Placas, anunciada na Europa por Alfred Wegener em 1912, mas só reconhecida pela comunidade científica na década de 1960. Foi por esse motivo que na década de 1970 a Petrobras desativou a sua Divisão de Exploração Sul, sediada em Ponta Grossa, e concentrou esforços de prospecção na plataforma continental, onde se situam as bacias de Campos e de Santos, de onde provém quase todo o petróleo produzido atualmente no Brasil. Em 2006 o Brasil tornou-se autosuficente, graças ao petróleo produzido na Bacia de Campos. Em 2017, graças à produção dos campos do pré-sal na Bacia de Santos, o Brasil exportou uma média de um milhão de barris/dia, aproximando-se dos maiores exportadores mundiais. E a produção do pré-sal está só no início, deverá crescer significativamente. Ou seja, a Petrobras não está falida, pelo contrário, apesar da sabotagem que vem sofrendo nos últimos anos, ainda é uma empresa fortíssima, detentora de tecnologia especializada, descobridora dos maiores campos petrolíferos do mundo nas últimas décadas.
Justamente por tornar-se grande produtora, e por ter sido um monopólio estatal, a Petrobras foi alvo de tantas campanhas, tanto ataques visando minar seu equilíbrio financeiro quanto sua credibilidade. Não é por acaso que a Venezuela está na enorme crise que vemos hoje, e o Brasil vive sua crise relacionada a preços de combustíveis. A Venezuela também, como o Brasil, tem tentado manter sua principal riqueza, o petróleo, um bem controlado pelo estado, protegendo-o da sanha do oligopólio que controla o petróleo no planeta. A indústria do petróleo é a segunda indústria que mais mobiliza recursos no mundo, só perdendo para a indústria da guerra, que é movida pela indústria do petróleo. As “sete irmãs”, corporações do oligopólio do petróleo, não poderiam tolerar que estatais de países sulamericanos ameaçassem seu controle sobre a principal fonte de energia do planeta. Daí as crises que vemos hoje no Brasil e na Venezuela.
As corporações transnacionais, aliadas com o interesse da hegemonia de poder mundial dos países onde mantêm suas sedes (EUA e Europa), sabotam os governos e as empresas, como a Petrobras e a PDVSA da Venezuela, que ousem desafiar seu oligopólio. É isto que está se passando no Brasil, onde os governos que fortaleceram a Petrobras e o monopólio estatal, através de políticas soberanas e pesados investimentos no desenvolvimento tecnológico da exploração em águas profundas, sofreram um golpe. E o mesmo está acontecendo, talvez de forma ainda mais aguda, na vizinha Venezuela.
Os preços do petróleo no mercado internacional são controlados pelo oligopólio. Eles podem mudar para favorecer o interesse das sete irmãs, ou para sabotar quem quer que lhes ameace a exclusividade, como as estatais de países periféricos. O oligopólio não mede esforços, nem consequências, para preservar seu domínio. A greve de caminhoneiros que vivemos hoje é só uma das muitas consequências. Outra é a mudança de governo. No Brasil assumiu um governo servil, submisso aos interesses internacionais.
E outra consequência, talvez ainda mais arraigada: a lavagem cerebral realizada na população, para que ela defenda os interesses de oligopólios estrangeiros ao invés de defenderem interesses de soberania nacional. Essa é a verdadeira herança maldita.

4 comentários:

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