Nestes dias de
paralisação dos caminhoneiros, tenho me surpreendido com o tanto que tenho visto
na web, nos jornais escritos, em conversas, a atribuição da culpa ao que está
acontecendo ao governo Dilma, que teria quebrado a Petrobras, que agora se vê
obrigada a reajustar o preço dos derivados do petróleo diariamente. Uma herança
maldita dos governos anteriores. Junto com a profusão de afirmações como esta,
vejo cada vez mais adesivos do Bolsonaro presidente, e de pedidos de
intervenção militar.
Vamos refletir
sobre a Petrobras. Graças a uma política de autonomia, grandes investimentos e
a tecnologia de ponta desenvolvida no Brasil para prospecção e extração de
petróleo em águas profundas, a Petrobrás “descobriu” os enormes campos
petrolíferos do pré-sal, em 2007. A existência dessas grandes acumulações de
petróleo já era prevista pela teoria da Tectônica de Placas, anunciada na
Europa por Alfred Wegener em 1912, mas só reconhecida pela comunidade
científica na década de 1960. Foi por esse motivo que na década de 1970 a
Petrobras desativou a sua Divisão de Exploração Sul, sediada em Ponta Grossa, e
concentrou esforços de prospecção na plataforma continental, onde se situam as
bacias de Campos e de Santos, de onde provém quase todo o petróleo produzido
atualmente no Brasil. Em 2006 o Brasil tornou-se autosuficente, graças ao
petróleo produzido na Bacia de Campos. Em 2017, graças à produção dos campos do
pré-sal na Bacia de Santos, o Brasil exportou uma média de um milhão de barris/dia,
aproximando-se dos maiores exportadores mundiais. E a produção do pré-sal está
só no início, deverá crescer significativamente. Ou seja, a Petrobras não está
falida, pelo contrário, apesar da sabotagem que vem sofrendo nos últimos anos,
ainda é uma empresa fortíssima, detentora de tecnologia especializada, descobridora
dos maiores campos petrolíferos do mundo nas últimas décadas.
Justamente por
tornar-se grande produtora, e por ter sido um monopólio estatal, a Petrobras
foi alvo de tantas campanhas, tanto ataques visando minar seu equilíbrio financeiro
quanto sua credibilidade. Não é por acaso que a Venezuela está na enorme crise
que vemos hoje, e o Brasil vive sua crise relacionada a preços de combustíveis.
A Venezuela também, como o Brasil, tem tentado manter sua principal riqueza, o
petróleo, um bem controlado pelo estado, protegendo-o da sanha do oligopólio
que controla o petróleo no planeta. A indústria do petróleo é a segunda
indústria que mais mobiliza recursos no mundo, só perdendo para a indústria da
guerra, que é movida pela indústria do petróleo. As “sete irmãs”, corporações
do oligopólio do petróleo, não poderiam tolerar que estatais de países
sulamericanos ameaçassem seu controle sobre a principal fonte de energia do
planeta. Daí as crises que vemos hoje no Brasil e na Venezuela.
As corporações
transnacionais, aliadas com o interesse da hegemonia de poder mundial dos
países onde mantêm suas sedes (EUA e Europa), sabotam os governos e as
empresas, como a Petrobras e a PDVSA da Venezuela, que ousem desafiar seu
oligopólio. É isto que está se passando no Brasil, onde os governos que
fortaleceram a Petrobras e o monopólio estatal, através de políticas soberanas
e pesados investimentos no desenvolvimento tecnológico da exploração em águas
profundas, sofreram um golpe. E o mesmo está acontecendo, talvez de forma ainda
mais aguda, na vizinha Venezuela.
Os preços do
petróleo no mercado internacional são controlados pelo oligopólio. Eles podem
mudar para favorecer o interesse das sete irmãs, ou para sabotar quem quer que
lhes ameace a exclusividade, como as estatais de países periféricos. O
oligopólio não mede esforços, nem consequências, para preservar seu domínio. A
greve de caminhoneiros que vivemos hoje é só uma das muitas consequências. Outra
é a mudança de governo. No Brasil assumiu um governo servil, submisso aos
interesses internacionais.
E outra
consequência, talvez ainda mais arraigada: a lavagem cerebral realizada na
população, para que ela defenda os interesses de oligopólios estrangeiros ao
invés de defenderem interesses de soberania nacional. Essa é a verdadeira
herança maldita.
Ótimo texto, pai!
ResponderExcluirPerfeito e nos a deriva
ResponderExcluirQuem sabe pode explicar.
ResponderExcluirAgradeço Sérgio, o esclarecimento.
Abraço
Um texto muito bom e esclarecedor
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