Em seu
instigante livro Ensaio sobre a cegueira,
o premiado escritor português José Saramago (ganhou entre outros o Nobel de
Literatura e o Prêmio Camões, máxima distinção literária da língua portuguesa)
faz um provocante ensaio sobre como seria o comportamento humano caso nos
víssemos livres das leis e convenções que nos governam e limitam nossos
instintos. A partir de uma inexplicável epidemia de cegueira, os personagens do
livro passam a uma selvagem disputa, primeiro por alimento, depois pelo poder e
depois por sexo.
A cegueira
visual, no caso do livro, liberta os demônios precariamente contidos pelas
regras sociais quando estas colapsam. Mas não é necessária a ficção de um livro
para nos mostrar do que somos capazes se nos virmos livres de regras. Basta ver
o que acontece durante uma guerra ou qualquer outro conflito armado
disseminado.
Existem outros
tipos de cegueira: a religiosa, a política, a intelectual, a de
sensibilidade... Mas talvez a mais insidiosa seja a cegueira moral, que impede
de ver a diferença entre o certo e o errado, entre o que é socialmente
aceitável e construtivo, e o que é prejudicial e destrutivo. Moral requer
sensibilidade, empatia, solidariedade. Contrários a ela são a truculência, o
individualismo ganancioso, a agressiva competitividade, a desfaçatez...
E como anda o
mundo atual em relação a essas qualidades? De que forma têm agido os países que
têm poderio militar e econômico? E as grandes corporações transnacionais? E as
maiorias, étnicas, religiosas, ideológicas, como têm se comportado em relação
às minorias? Qual papel têm exercido os grandes líderes mundiais, e mesmo os
homens públicos em geral, até mesmo aqueles das pequenas cidades, muitas vezes
eleitos pela população? Não são títeres a serviço de mesquinhos interesses
corporativos que se confundem com ambições pessoais?
Parece que a civilização
está sofrendo de uma cegueira real, não é a ficção da literatura de Saramago. Mas
não é cegueira da visão, é cegueira moral, cegueira dos sentidos do que existe
de humano entre nós. E, assim cegos, somos preza fácil de manipulações. Gostos
de consumo, opiniões, comportamentos, ideologias são-nos imputados sem que nos
apercebamos que acreditamos ser nosso o que nos é estranho. E passamos a
consumir, a rejeitar, a odiar ou idolatrar aquilo que nos é subliminarmente
induzido. Somos como cães das experiências de Pavlov treinados para ter os
reflexos condicionados.
Não nos
guiamos mais pela moral, noção muito íntima. Somos guiados pela grande mídia,
pelo consenso construído, pelo nefasto exemplo dos homens públicos, eles mesmos
já desmoralizados muito antes que nós.
Se pretendemos
ver a humanidade prosperar e não sucumbir, agora que adquiriu o poder de
autodestruir-se e de destruir o planeta, urge que recuperemos a visão moral.
Na mosca Mario Sergio. Sempre ouço o grande Lennon cantar que não estamos aqui pra viver em sofrimento e dor mas sim pra brilhar, como o sol, a lua e as estrelas. (Instant Karma). Vida de gado, povo marcado é povo feliz, essa do Ze Ramalho. São muitas os toques que vem não so pela musica mas pela literatura, cinema, as artes enfim. abs. Carlos Sa
ResponderExcluirbela reflexão, sempre acompanho aqui.
ResponderExcluirLendo o texto e depois o comentário do Carlos Sá, deixo aqui um trechinho das palavras do John Lennon
ResponderExcluirYou may say I'm a dreamer
But I'm not the only one
I hope some day you'll join us
And the world will be as one
♥