Por trás da crise da greve dos
caminhoneiros, Felipe Coutinho, o presidente da AEPET – Associação dos
Engenheiros da Petrobras – nos revela quais as verdadeiras causas dos seguidos
aumentos dos preços dos combustíveis, que fizeram as estradas ficarem
bloqueadas e o Brasil parar (ver em https://felipecoutinho21.wordpress.com/2018/05/27/entrevista-ao-brasil-247-sobre-a-politica-de-precos-da-petrobras/).
A entrevista mostra que o Brasil tem exportado o petróleo bruto, que é refinado
no exterior, principalmente nos EUA, e volta ao país com o preço mais alto, o
valor agregado da industrialização lá fora. Enquanto isso, as refinarias
brasileiras operam a 70% de sua capacidade. Ou seja, o petróleo que mandamos
refinar lá fora e importamos mais caro poderia estar sendo refinado aqui.
Como importamos os refinados pelo preço do
mercado global, e este oscila ao sabor dos interesses das mesmas corporações transnacionais
que importam nosso petróleo bruto e nos exportam de volta mais caro, a
Petrobras vê-se na contingência de reajustar os preços de acordo com as diárias
variações do mercado. Esse foi o principal motivo da paralisação dos
caminhoneiros. Os custos do combustível sobem quase diariamente, o que não
acontece com o valor do frete, que é sua receita.
E por quais
motivos o governo estaria permitindo esta perversa negociação, que exporta o
óleo cru como matéria prima relativamente barata e a importa na forma de refinados
com valor agregado, enquanto poderia estar refinando aqui para a produção de
combustíveis no país com preços livres das oscilações do mercado global?
Felipe
Coutinho nos explica que a intenção do governo atual é, num futuro próximo,
privatizar o refino e a comercialização de combustíveis no país. As potenciais
empresas interessadas no negócio são justamente as transnacionais do petróleo.
A elas não interessa um negócio onde os preços não acompanhem os preços
praticados no mercado global. Então desde já o Brasil estaria se ajustando ao
esquema pretendido.
Este esquema é
o mesmo que tem vigorado desde o Brasil colônia. O país estaria destinado a ser
um exportador de matérias primas relativamente baratas e um importador de
produtos industrializados com valor agregado. A riqueza fica no país que agrega
valor, e não no exportador de matérias primas. Isso aconteceu/ce com as madeiras
nobres, a cana de açúcar, os minérios de manganês, alumínio, ferro e outros, a
carne, a soja, e agora o nosso mais recente recurso natural exportável, o
petróleo dos campos do pré-sal, descobertos em 2007. E fiquemos atentos, os
próximos a serem visados são nossos aquíferos.
A lógica por
trás de esquemas tão esdrúxulos é a lógica de priorização do interesse do
mercado, em detrimento do interesse da população e da soberania nacional. Os
recursos naturais de uma nação deveriam gerar riqueza dentro dessa nação, criar
empregos, distribuir renda, contribuir para a prosperidade do Brasil, para a
inclusão social e a diminuição da pobreza e das imensas diferenças sociais de
nosso país. A riqueza oriunda de tais recursos deveria ser investida em saúde,
educação, melhoria da infraestrutura, e em outras carências crônicas do Brasil.
Nunca a
riqueza nacional, e no caso do petróleo estamos falando de uma riqueza exportável
que descobrimos há uma década, deveria estar a serviço da sanha de
inescrupulosas corporações transnacionais, regidas pela lógica do mercado e do
lucro. O lema da Petrobras, criada em 1953, é “O petróleo é nosso”. Houve forte
pressão popular para o caráter estatal da empresa, celebridades da época, como
Monteiro Lobato e outros, engajaram-se na campanha de mostrar à população a
importância do Estado manter para si o controle sobre riqueza tão essencial, pois
os benefícios desta riqueza deveriam reverter em prol da população e da
soberania do país.
Parece que essa
rica história foi esquecida. É hora de relembrar população e governo que se o
Brasil tem pretensão de acordar do berço esplêndido, e de ser o país do
presente e não o eterno país do futuro, é preciso que deixemos de ser colônia
exportadora de recursos naturais para satisfazer a sanha das corporações transnacionais
e do mercado.
Brilhante , sem mais
ResponderExcluirBelo texto, chega de colônia, agora mais do que nunca é necessário ordem e progresso!
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