sexta-feira, 13 de março de 2020

Hipocrisias princesinas



A Sanepar anuncia, e logo seus arautos não se cansam de proclamar, que a cidade de Ponta Grossa (a Princesa dos Campos) é uma das cidades melhor saneadas do País. Será verdade? Se assim é, por que quem conhece os muitos arroios urbanos da cidade sabe que todos eles são esgotos a céu aberto? Por que as análises da qualidade da água do Lago de Olarias, ainda a ser inaugurado, sempre dão qualidade insatisfatória? Por que o Instituto das Águas, no ano de 2015, empenhou-se em rebaixar a categoria dos rios da cidade no que diz respeito à qualidade da água, reconhecendo a incapacidade de mantê-los limpos? Esta grosseira contradição parece querer fazer crer que o cidadão ponta-grossense satisfaz-se com as aparências da imagem da cidade, ainda que falsas.
É possível que o anúncio da Sanepar esteja fundamentado em dados que não correspondem à realidade. É bem possível que a rede urbana de coleta de esgotos seja mesmo uma das maiores do País. Mas numa cidade antiga amiúde os esgotos não estão conectados à rede de saneamento, mas sim à rede de captação das águas das chuvas, que acaba indo parar nos arroios e no Lago de Olarias. Reparar este problema demandaria um minucioso trabalho de investigação de edificação por edificação, para saber se a destinação do esgoto está correta.
Outra aparente marca do conformismo do ponta-grossense com bizarrias é aquilo que pretende ser uma ciclovia na Av. Bispo Dom Geraldo Pellanda em Uvaranas. Que disparate! Sem adequar a largura da via de autos, pintou-se uma estreita faixa à direita sinalizada, no piso e com placas, indicando tratar-se de uma ciclovia. Ironicamente, há placas orientando os motoristas dos autos para distanciar-se um metro e meio do ciclista. Mas se assim o fizer, o motorista vai invadir um metro e meio a faixa à sua esquerda. A pretensa ciclovia é uma empulhação. Uma vergonha para qualquer cidadão, daqui ou de fora, que a vê e se pergunta se os moradores da cidade deixam-se iludir tão grosseiramente.
Bizarrias como essas contaminam o senso do que seja correto de toda a população, cidadãos e autoridades. Os mecânicos da oficina de motos na Carlos Cavalcante não se incomodam de lavar as motos e lançar os efluentes na sarjeta, que vai para a rede pluvial, levando os piores poluentes para as águas que vão encher o Lago de Olarias. O fiscais, apesar de notificados, negligenciam a fiscalização. Os proprietários rurais ignoram, ou fazem que ignoram, os essenciais préstimos ambientais das unidades de conservação nas cercanias da cidade, pois estão deslumbrados com o lucro rápido e altamente impactante. E ainda bravateiam que nas suas propriedades cuidam melhor do meio ambiente que a população da cidade.
Isso tudo configura um conjunto de hipocrisias de uma melindrosa princesa acostumada a falsas aparências em nome de uma imagem enganosa. Como se sabe que era usual na nobreza que não tinha responsabilidade com seus súditos nem seu lugar.
Um povo digno, uma cidade digna, não são edificados sobre imposturas, mas sobre a verdade. Já muito se disse, “a mentira desgasta relacionamentos, a verdade não; a verdade devasta”. Estaremos qualificados para enfrentar os desafios da verdade?

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