Publicado no Jornal da Manhã em 28/10/2020.
Foi noticiada na noite deste domingo (25 de
outubro) a execução do dirigente estadual do MST – Movimento dos Trabalhadores
Rurais sem Terra – Ênio Pasqualin, assassinado em Rio Bonito do Iguaçu, sudoeste
do Paraná. Ele foi sequestrado em casa, diante da família, e executado a tiros numa
estrada rural. O crime teria tido motivação política.
Esta notícia está em veículos alternativos
(Brasil 247, Revista Fórum, etc.). Como ela será tratada nos jornalões do Brasil?
Vale ver o documentário “Nossa bandeira jamais será vermelha” (direção de Pablo
López Guelli, 2019). Ele mostra como meia dúzia de grandes grupos de mídia
carteliza a informação no país, manipulando as notícias de modo que a população
reaja como um rebanho que acaba negando seus próprios direitos e apoia os
privilégios da elite econômica.
Ênio Pasqualin era dirigente do MST, cuja
bandeira principal é a reforma agrária. O documentário mostra como isto é
traduzido pelos jornalões, que transformam tudo o que tem a ver com o MST em
perigo à suposta ordem instituída. Mas, numa visão realista, o MST é um
movimento legítimo, popular, que busca resistir ao sequestro dos direitos, da
identidade e da liberdade do camponês. A bandeira pela reforma agrária não é
pela desordem no campo, mas sim pela distribuição da terra de latifúndios
improdutivos ou ilegais para camponeses que nelas desejam trabalhar.
Sendo um movimento popular, contrário ao
interesse do latifundiário, o MST tem sido demonizado, junto com todos os
movimentos, partidos, políticos, mídias, pessoas, etc., que se colocam ao lado
dos explorados contra os exploradores. Quem vê o MST como uma ameaça à economia
e à sociedade deveria procurar conhecê-lo melhor. Ele na verdade luta por uma
sociedade mais justa, uma produção agrícola voltada para as necessidades das
populações locais, a defesa das sementes crioulas livres dos grilhões
corporativos e da obrigação do uso de agrotóxicos, o cooperativismo e campanhas
solidárias, a educação sem medo de abordar temas sobre soberania, consciência
de classe e militância política. Por isso o MST é temido: ele é um risco à
perpetuação dos privilégios da elite econômica que ainda trata o Brasil como
uma monarquia escravocrata.
A execução de Ênio Pasqualin às vésperas das
eleições municipais é um recado da truculência do poder econômico. Se as
manipulações não bastarem para calar seus opositores, não hesitarão em chegar
às vias de fato. E não temem as consequências de seus crimes. Têm a confiança
de que exercem suficiente influência sobre os órgãos policiais e judiciais para
que os crimes resultem impunes.
A truculência dos assassinos de Ênio
Pasqualin não se limita ao extermínio de líderes rurais. É a mesma que domina a
grande mídia, mente nas redes sociais e elege prepostos que mandam na política.
No quadro atual, há um modo de barrar tal truculência: é eleger políticos que
representem de fato a classe trabalhadora.
Estamos próximos das eleições municipais. Que
a população tome consciência de sua condição social, e enfim saiba eleger quem
vai representá-la.
Tenho muito pouca esperança que isso vá acontecer. Se a população soubesse eleger seus representantes jamais teriam sido eleitos todos esses reacionários que agora estão no poder. Como disse Paulo Freire e eu sempre gosto de cita-lo: "INGENUO ACHAR QUE AS CLASSES DOMINANTES DESENVOLVESSEM UMA FORMA DE EDUCAÇÃO QUE PROPORCIONASSE ÀS CLASSES DOMINADAS PERCEBER AS INJUSTIÇAS SOCIAIS DE FORMA CRÍTICA".
ResponderExcluirabs
Excelente texto. Parabéns!
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