Publicado no Jornal da Manhã em 30/03/2023.
Em primeiro lugar, quem é a direita?
Historicamente, era a porção da sociedade ─ negociantes, empreendedores,
empregadores, proprietários de terras e de bens, leais à monarquia, enfim, os
burgueses ─ que tomava lugar à direita do presidente da Assembleia Nacional a
partir da Revolução Francesa, no final do século XVIII. À esquerda do
presidente tomavam lugar aqueles que ganhavam seu sustento com o próprio
trabalho, e que eram partidários da revolução e fim da monarquia.
Com o tempo, “esquerda” e “direita” foram
acumulando sentidos, adicionados pelos acontecimentos relacionados com o
sistema econômico e a luta de classes: trabalhadores de um lado, empregadores
donos do capital do outro. No Brasil, a direita identificou-se com séculos de escravagismo:
acorrentou nativos ─ quase totalmente exterminados devido à “não adaptação ao
jugo” ─ e negros africanos ─ “mais dóceis e adaptáveis”. Sociólogos como Jessé
Souza e outros alertam que esta direita sentiu-se lesada quando da Lei Áurea, que
extinguiu a escravidão, pois não foi indenizada pela perda de sua “propriedade”,
os escravos negros. Perda que o Estado lhes impunha.
Essa direita, ressentida com a obrigatória
expropriação da mão de obra que a servia, concedeu-se o direito de explorar, da
mesma forma que o fizera com os escravos, os novos trabalhadores que viessem
servi-la. Daí amiúde afirmar-se, desde Gilberto Freyre, que a escravidão no
Brasil ─ ou a casa grande que a simboliza ─ não é uma instituição histórica,
mas é uma estrutura mental vigente. A direita, ou a “elite” dona do capital, os
injustos exploradores do trabalho, continua vendo o trabalhador como sua
propriedade, pertencente a uma “casta” inferior, sem direitos, muito menos o de
sonhar com justiça, igualdade e prosperidade. A direita não é só insaciável em
sua ânsia de poder e lucro; ela se considera um ser humano diferenciado,
autorizado a discriminar, subjugar e explorar a mão de obra que a serve. O
escravagismo está enraizado na direita.
Alguns fatos recentes fazem evidenciar a
luta direita x esquerda no Brasil. Com a quebradeira de bancos e o tumulto do
mercado mundo afora, o Banco Central mantém no país a taxa de juros que é a
mais alta do planeta. Garantia de que a população ─ os trabalhadores ─ continuem suprindo
o pagamento das rendas aos donos do capital, que emprestam ao Estado. Bolsa de
valores caiu, dólar subiu! Os grandes veículos da mídia ─ o “partido das elites”
de acordo com Jessé Souza ─ atribuem o mal desempenho do mercado brasileiro à
fala de Lula, presidente de esquerda, que criticou as altas taxas de juros.
Houve raras exceções admitindo que a turbulência do mercado na verdade tem outras
razões fundamentais: a alta taxa de juros, que freia o crescimento econômico, e
as incertezas no mercado internacional.
O presidente esquerdista ─ que não é
comunista, como a direita insiste dizer ─ é obrigado a vir a público para
alertar que a direita sempre vai reagir negativamente às iniciativas que
procurem igualar oportunidades para toda a sociedade, tais como o fim da fome,
o emprego e salário dignos, a casa própria, educação e saúde gratuitos e de
qualidade, chance de cursar uma universidade, mais justiça tributária...
A direita não é só escravagista. Em nome
da defesa do escravagismo é capaz de todo tipo de manipulação, intimidação,
desumanidade e mentira.
Excelente! Simples, objetivo, DIDÁTICO. Parabéns por mais esta.
ResponderExcluirEnxuto, impecável! Parabéns, Mário!
ResponderExcluirSempre na mosca, Mário Sérgio! Parabéns!
ResponderExcluirSim. Direto ao ponto e sem rodeios. O povo é manipulado desde cedo a achar que tudo isso é normal. Como disse Lennon em sua canção Working class hero: Eles entopem voce de religião, sexo e tv.
ResponderExcluirabs.
Carlos SA
Impossível discordar. Texto bem dosado, excente!
ResponderExcluirOtima exposiçao, abre nossa historia, em poucas colocaçoes, e nos leva a enxergar, de uma maneira lúcida o cenário brasileiro.
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