Publicado no Jornal da Manhã em 14/05/2024.
“O despertar do
universo consciente – um manifesto para o futuro da humanidade” (Editora
Record, 2024) é o título do inspirado e inspirador livro do internacionalmente
renomado físico e astrônomo brasileiro Marcelo Gleiser. Nele o autor historia
nossa ideia de mundo desde a Antiguidade até os dias atuais, passando pela
Terra como centro do universo, depois o heliocentrismo, até a consciência de um
sistema solar periférico de uma galáxia entre incontáveis outras, cada uma delas
com incontáveis estrelas e planetas.
A consciência de que não somos o centro do mundo teria
dessacralizado o planeta que acolhe o mistério da vida, da qual somos, talvez,
a manifestação mais evoluída. E dessacralizou-se também a espécie humana, a partir
de então encarada como a reles população de um ordinário corpo celeste
orbitando uma vulgar estrela de quinta grandeza. De acordo com Gleiser, a Terra
teria começado a perder seu encantamento no Século XVI, com o modelo
heliocêntrico de Nicolau Copérnico. A novidade revoltou a Inquisição, crente do
geocentrismo e do ser humano como a criação divina à imagem do criador, situada
no centro do universo.
O livro nos conduz ao longo da evolução do conhecimento do
universo, da Terra, da proliferação da vida em nosso planeta e da, até agora,
nossa solidão cósmica. Estaremos de fato sozinhos nessa imensidão de mundos? Contrapondo-se
à decepção da igreja com a revelação científica de que não somos o centro do
mundo, Gleiser nos alerta da singularidade de nosso planeta, e do inusitado da
vida que aqui grassa.
Nas palavras do autor, um planeta que abriga a vida é um
planeta sagrado. Mas o conhecimento, a ciência e a tecnologia parecem ter-nos
conduzido a uma falência moral. A civilização atual dessacralizou a natureza,
subvertendo o sublime e o místico que os povos originários atribuem à criação
do mundo que sustenta a vida. Em sua religiosidade, o mundo e os seres vivos
interagem como um organismo único, são a manifestação de fenômenos sagrados.
Atualmente monetarizamos tudo, colocamos preço na natureza
e na vida: a terra, o bucólico, o ar puro, a água, o alimento, a liberdade, o
conhecimento, a saúde, a alegria, o lazer, a arte, o amor, o sexo, a
criatividade, a paz, a religião... Escolhemos trilhar um caminho que arrisca
conduzir-nos à extinção de nossa espécie. Talvez até mesmo de toda a vida no
planeta. De toda a vida no universo?
Após nos sensibilizar mostrando-nos como a Terra é única no
cosmo que conhecemos, e como a vida é um inexplicável e fantástico mistério, o
autor nos convoca para o reencontro com o sagrado que se manifesta no mundo e nos
organismos vivos. Para as pessoas por demais urbanizadas, sugere, para iniciar
esse reencontro, ações bem simples: cultivar um jardim e árvores, frequentar
parques com lagos e bosques, caminhar ao longo de rios e das praias, observar
os pássaros, os animais, o próximo, o céu, as estrelas...
Não somos superiores à natureza e à vida, mas somos um
fenômeno único no universo. Nas palavras de Marcelo Gleiser, “precisamos ressacralizar o mundo”.
Marcelo Gleiser é uma das referencias que sigo desde sempre.
ResponderExcluirGenio da raça.
abs.
Carlos SA
Sim, a modernidade não cumpriu suas promessas, Resta agora ressacralizar o mundo.
ResponderExcluirSempre que venho aqui aprendo algo. 🙏
ResponderExcluir"Tudo que é sólido desmancha no ar". A atual aventura da modernidade nos amedronta com os impactos da natureza.
ResponderExcluirEm poucas palavras, Mário, você conseguiu nos advertir de que temos uma tarefa importante a fazer. E não podemos perder tempo. Imperdível a leitura desse livro. Vou à procura.
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