Publicado no Jornal da Manhã em 21/05/2024.
A tragédia que acontece no Rio Grande do Sul é o resultado
de uma equação com muitas variáveis: aquecimento global, El Niño, chuvas torrenciais, ocupação indevida de planícies de
inundação dos rios, ineficazes sistemas de prevenção e combate de enchentes,
impermeabilização dos solos agrícolas da bacia de captação, erosão dos solos e
assoreamento do leito dos rios... Todas estas variáveis – e esta lista não está
completa – têm uma única origem: a incúria humana com o planeta Terra que nos
acolhe.
A civilização atual é singular: a população nunca foi tão
numerosa, o consumo desenfreado é hiperestimulado, a queima de combustíveis
fósseis é recorde, proliferam conflitos armados, arsenais armazenam armas que
podem destruir o mundo, concentramos riqueza e distribuímos pobreza, acirramos
insegurança e conflitos sociais, extinguimos espécies, desequilibramos
ecossistemas, engendramos a disseminação de pandemias, utilizamos avançada
tecnologia de desinformação e manipulação, desencadeamos as guerras híbridas e
cognitivas, nas quais os inimigos são invisíveis e insidiam-se dentro das
mentes, alimentamos a desesperança, a segregação, o ódio, a soberba, a
supremacia e a cupidez como lenitivos a que nos agarramos perante o caos e a
descrença.
A tragédia no Rio Grande do Sul é só um sinal, como o têm
sido o buraco na camada de ozônio, a covid-19, o aquecimento global, as secas
inéditas, os incêndios florestais no Canadá, EUA, Austrália, Amazônia e
Pantanal, as inundações, os furacões... Alguém já escreveu que Deus perdoa
sempre, as pessoas às vezes, a natureza nunca! Ela está nos alertando de nossa
incúria e suas consequências.
O planeta Terra é um milagre, que propiciou outro milagre:
a vida. Que foi contemplada com a dádiva da inteligência. Só nos faltam os
milagres do discernimento, da sensatez. Estes, que já se manifestam, mas ainda
não aprendemos a vê-los e valorizá-los, nos trarão a compreensão, a
solidariedade, a parcimônia e a paz. Então reconheceremos que temos o
privilégio de estarmos vivendo no paraíso dos sonhos humanos. Não um paraíso
inerte e sem propósito, mas um paraíso de generosidade infinita, que tudo nos
concede. Entretanto, severo com nossos erros, que pune rigidamente,
pacientemente nos mostrando qual o caminho certo a seguir: é a Mãe Terra dos
povos originários, sábia, generosa e diligente.
A tragédia no Rio Grande do Sul é o fruto amargo de séculos
em que a humanidade vem endeusando o mercado financeiro, exacerbando formas de
exploração predatória da natureza e do homem pelo homem. O incentivo à
competição, ao consumo desenfreado, ao ter mais importante que o ser, tudo deságua
numa insana luta de classes, na revolta do ambiente e nos desastres que não são
naturais, pois resultam do descuido humano. Estamos transformando o paraíso
que é o planeta Terra num inferno. Ainda não compreendemos o significado da
parábola de Adão e Eva, da serpente e da maçã, do pecado e da expulsão do
paraíso. A serpente é a cupidez, a maçã é a jactância, o pecado é nossa
incúria.
Mas, felizmente, não somos só pecadores, seduzidos pela
cupidez. Já temos ideia de quais os erros que temos cometido, e como
corrigi-los. A Mãe Terra tem-nos demonstrado. Urge passar das ideias às ações.
Mario, mais uma vez fico encantada com seu estilo de apresentar a força de destruição da natureza e da humanidade, e ao mesmo nossa fraqueza em assumir nossos erros! Me comparo com os ramos que renascem do tronco, tenho a esperança do renascimento.
ResponderExcluirAgir sempre na defesa do nosso ambiente, planeta Terra! Parabéns Mário!
ResponderExcluirE como se não bastasse tamanha estupidez do homem, eis que surge, em meio a catástrofe, a iniciativa privada como um super heroi, com suas dezenas de carretas, helicópteros, milhares de toneladas de alimentos, com o intuito de dizer que o estado é ineficiente, e os empresários, os salvadores da pátria. Tudo para esconder a causa da catástrofe e, ao mesmo tempo, legisladores seguem aprovando projetos anti preservação ambiental , tudo em nome de um "progresso" que enriquece poucos e destrói a vida de muitos.
ResponderExcluirClenio - Ponta Grossa PR.
O que leva o homem que sabe qual é o caminho certo a optar pelo errado? Lucro, cifras, falta de empatia, arrogância e tremenda estupidez. Acho muito triste esta constatação. Mais um texto lúcido e inteligente, Mário.
ResponderExcluirEm 1991,quando em Curitiba mostrei o efeito da inversão térmica,fui chamado de planetário,louco,sem conhecimento "acadêmico" para tal....taí ..quem e insano.tai o Pampa Pobre do Gaúcho da Fronteira....sem raiz nem matizes..tks
ResponderExcluirPedro Guimarães,73,parana
ResponderExcluir