Postado no Portal DCmais em 10/09/2024, publicado no Jornal da Manhã em 11/09/2024.
A chegada a Ponta Grossa, vindo de Curitiba, quando se
alcança o Distrito Industrial, cinco quilômetros antes da cidade, proporciona
uma bela visão da silhueta urbana, que se alteia sobre o horizonte de colinas
suaves dos Campos Gerais. Uma visão que já inspirou muitos viajantes, de hoje e
de antigamente, a traduzir em belas palavras o sentimento de acolhida e de
boas-vindas daqueles que divisam a Princesa dos Campos, seja ela o lar ou uma passagem
de um percurso maior.
Mas neste último sábado, 7 de setembro de 2024, o
sentimento de alegria do retorno ao generoso lar foi-nos substituído por outro:
de desolação, de preocupação. Quase não se via a silhueta da cidade, embaçada pela
densa e esbranquiçada névoa seca, um eufemismo para a fumaça vinda das insanas
queimadas na Amazônia e no Pantanal. Que paradoxo! Os chamados “rios voadores”,
que trazem a umidade da Amazônia para dessedentar e fertilizar o Sul e Sudeste
do Brasil, agora trazem fumaça! Junto com massas de ar quente e seco, que
subvertem a normalidade climática.
O impacto visual não chega sozinho: a água da pífia chuva
da semana anterior, que coletamos no quintal, que escorreu pelos telhados,
ficou enegrecida com a fuligem finíssima depositada pela névoa seca; a
população é acometida de um surto de doenças respiratórias, e já não se
encontram umidificadores nas lojas especializadas; os agricultores anunciam
colheitas antecipadas e perda de safras; o preço de alguns produtos, tais como
açúcar, feijão e carne, ficam mais caros em consequência das queimadas e da
seca; a tarifa da energia elétrica sobe para o vermelho, pelo imperativo de
ativar as caras e poluentes termelétricas...
Estaremos já vivendo o anunciado apocalipse, resultante da
desmedida incúria humana, que incendeia as florestas que são a fonte da
vitalidade de grande parte do Brasil? E estes sinais ambientais de nossa
insensatez vêm acompanhados de outros: o endeusamento do dinheiro e do mercado;
a mentira mais crível que a verdade; o egoísmo suplantando a solidariedade; a
tolerância rendendo-se aos extremismos; as guerras de extermínio e de dominação; a
boçalidade de homens e mulheres candidatos a parlamentares e governantes; a falência da
democracia representativa transformada em plutocracia; a fé convertida em mercadoria; os milhões de refugiados
da fome e da violência mundo afora...
Vivemos um momento em que a barbárie está superando a
civilização. Urge uma mudança drástica, uma revolução, antes que a espécie
humana cometa sua autoextinção e a devastação das condições da Terra suportar a
vida. Não é uma revolução nos sistemas políticos, econômicos ou sociais. Estes
são só o espelho da conduta humana. A revolução inadiável é no comportamento
humano. Se lograrmos transformá-lo, tudo se beneficiará. Sim, somos seres muito
complexos. Convivem em nosso íntimo contraditórios impulsos de destruição e de
construção, de competição e de solidariedade, de violência e de paz, de cupidez
e de generosidade. É a hora de escolhermos os impulsos construtivos, amorosos.
A engenhosidade da humanidade é caprichosa: ela pode criar
novas plantas alimentícias, curar doenças, enviar-nos à Lua, ou pode
dizimar-nos numa guerra nuclear, deteriorar as águas, os solos, o clima...
Dilemas que precisam ser resolvidos com ética, com solidariedade.
Ou não será possível reverter a catástrofe que estamos
cultivando.
Só haverá paz para os animais e para a flora qdo os ditos humanos forem dizimados.
ResponderExcluirO inferno somos nós.
Está aí o discurso do Pablo marçal que contradiz esse texto de alerta. E o pior da coisa, tem grande número de energúmenos a apoiá-lo.
ResponderExcluirUm belo alerta. Espero que seja ouvido.
ResponderExcluirRilka Bandeira
Nossa! Assim que me sinto: um ser que pertence a um gênero de seres vivos que não merece estar sobre o Planeta Terra. E sempre digo por aqui: "Já passou da hora de sermos extintos, e libertarmos a Terra de nossa presença destruidora."
ResponderExcluirPura verdade Mário
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