sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Crise hídrica e código de águas em Ponta Grossa

 Publicado no Jornal da Manhã em 21/02/2025 e no portal D'Ponta News em 22/02/2025.

O que temos visto em Ponta Grossa é uma vergonha: chuvas acima da média em 2025, temperaturas elevadas também acima da média, racionamento da água via rodízio entre os bairros, diretores da Sanepar alegando que a empresa não tem culpa nenhuma, o clima é culpado de tudo. Enquanto isso, discute-se sem nenhuma transparência a privatização da empresa, cujos contratos foram estendidos até 2048; e seguem as obras do novo manancial do Rio Tibagi, que deveriam ter sido concluídas em 2022. Um imbróglio típico de acordos onde prevalece o interesse privado, não o coletivo.

Fala-se então em medidas emergenciais. Já é hora que medidas responsáveis, de longo alcance, sejam tomadas. A realidade da cidade e da conjuntura de emergência climática que já adentramos precisa ser levada em consideração. Picos de calor como o atual, estiagens prolongadas e mesmo chuvas excepcionais concentradas, capazes de danificar os sistemas de captação, tratamento e distribuição, serão cada vez mais frequentes e inevitáveis.

A cidade cresce, expande-se territorial e verticalmente, a população consome mais água. E as redes de distribuição são cada vez mais complexas e sujeitas a problemas. Mas há características ambientais de Ponta Grossa que têm sido ignoradas quando do enfrentamento da questão da água e das crises hídricas: a primeira, é que estamos numa cidade onde em média chovem mais de 1.500 mm por ano, mais ou menos bem distribuídos, não há mês “seco”; a segunda é que estamos sobre o Aquífero Furnas, um manancial subterrâneo que produz água de boa qualidade, em quantidade; há ainda o Aquífero Itararé, menos importante que o Furnas, mas adequado em algumas situações.

Urge que a cidade tenha um “código de águas”, que deve cumprir várias funções. Algumas delas são: estimular e disciplinar o uso da água da chuva, principalmente por estabelecimentos como postos de serviços automotivos, indústrias, condomínios e outros; estimular e disciplinar a explotação da água subterrânea do Aquífero Furnas; disciplinar o uso da terra na região de afloramento do Arenito Furnas a leste da cidade, que é a área de recarga do Aquífero Furnas, o manancial subterrâneo, diferente da bacia de captação, que é o manancial superficial; introduzir nos códigos de obra dos bairros da cidade questões relativas ao uso da água da chuva e dos mananciais subterrâneos.

Os aquíferos, como o Furnas e o Itararé que ocorrem na cidade, são potenciais bons produtores de água, com algumas vantagens: os poços podem ser perfurados no local de consumo, dispensam redes de distribuição; a água é de boa qualidade, amiúde classificada como “água mineral natural”, dispensa tratamento; são reservatórios subterrâneos acumulados ao longo de milênios, não dependem da chuva num dado momento. Mas os aquíferos têm uma vulnerabilidade: não podem ser poluídos. Se o forem, sua recuperação é praticamente impossível. Por isso é essencial a proteção das áreas de recarga. Da mesma forma, os poços devem ser geridos de modo a evitar a poluição e a depleção pela superexplotação.

Temas a serem abordados no “código de águas” da cidade.

5 comentários:

  1. Excelente texto Mario. Saudades suas aulas.

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  2. Muito bem, Mário Sérgio. Se me permite: mencionaria também uma medida básica: colocar hidrômetros em pontos chaves da rede pública para evitar o consumo exagerado de água.

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  3. Um ótimo texto. Tomara que as autoridades competentes da cidade leiam e ponham em prática a sugestão do texto.
    Rilka Bandeira

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  4. É inadmissível a situação da nossa cidade com relação ao abastecimento de água. A Sanepar nos envergonha. E eu espero que os gestores da empresa também estejam sentindo o drama da situação. Mário Sérgio, você foi bastante generoso, expondo, de bandeja, a solução do problema. Excelente texto!

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  5. Rosicler Antoniácomi Alves Gomes25 de fevereiro de 2025 às 22:28

    Uma reflexão mais do que necessária. Quando falarão de reais interesses aqueles que foram eleitos pela maioria?

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