O espectro da total dominação é o subtítulo do livro A desordem mundial (Editora Civilização
Brasileira, 2016), de autoria do cientista político brasileiro Luiz Alberto
Moniz Bandeira, que em 2015 foi indicado pela União Brasileira de Escritores
para o Prêmio Nobel de Literatura.
O livro
não pode deixar de ser lido por aqueles que tenham a intenção de procurar
situar-se dentre os interesses que movem este nosso conflituoso momento atual
no planeta, a “desordem mundial” mencionada pelo autor. Ao final do
livro, embasado em vasta documentação que inclui arquivos oficiais,
depoimentos, notícias, livros, artigos científicos, mensagens eletrônicas e
outros, tem-se a convicção que a teoria da conspiração não é só uma teoria, e
que a desordem não é algo fora de controle. Na verdade, tudo o que vemos de
conflituoso no mundo convergiria para um propósito único muito bem planejado e
estruturado: nas palavras do autor, “o espectro da total dominação”.
O livro
relata os interesses por trás das guerras que têm se sucedido desde a queda do
Muro de Berlim em 1989 (Afeganistão, ex-Iugoslávia, Iraque, Líbia e a
“primavera árabe”, Ucrânia, Síria, Israel e Palestina...) e o suposto fim da
guerra fria, com a dissolução da União Soviética. Não só os interesses, mas as
estratégias utilizadas por esses interesses, que parecem bastante complexas,
mas são muito bem articuladas por atores obstinados no seu propósito: a hegemonia
do poder mundial.
A qual
poder está-se referindo? O militar? O econômico? O do controle dos recursos
energéticos e das matérias primas estratégicas? O da ferrenha defesa do dólar
como moeda de troca mundial? O do controle dos meios de comunicação? O poder do
consenso ideológico construído por todos esses outros poderes?
No
entender do cientista político, o agente principal que procura consolidar e
estender seu poder até os rincões mais remotos e tradicionais do mundo é
personificado pelas corporações que de Wall Street controlam o selvagem sistema
capitalista que está a assolar as terras e os povos do planeta. E este agente,
embora enraizado na maior cidade da mais poderosa potência do mundo atual, tem
suas ramificações disseminadas em todos os centros de poder menores espalhados
pela Terra. Não há lugar em que pessoas e instituições não estejam a serviço
dos interesses alienígenas do grande propósito da total dominação. E tais
serviçais são treinados e apoiados para parecer que sua submissão a anseios
egoístas tais como posse e poder pessoal sejam confundidos pelo povo ignaro com
liderança alternativa a regimes locais contaminados pela corrupção e
totalitarismos. Os serviçais espoliadores são tidos como libertadores.
O livro
mostra que tem sido assim ao longo da História recente: estruturas corruptas e
ditaduras primeiro são cultivadas no seio de países que sejam alvo de
interesses, depois, quando ameaçam fugir do controle de seus criadores, têm que
ser drasticamente eliminadas, às vezes ao custo da total destruição de um
mínimo de autoridade e infraestrutura local, e da identidade, da cultura, da História de
povos milenares. Está-se vivendo uma época de barbárie, estão-se cometendo
crimes em nome do combate ao terrorismo muito piores, e numa proporção
enormemente maior, que os crimes daqueles que podem ser considerados de fato
extremados terroristas.
O livro,
publicado em julho de 2016, não chega a analisar os sinais contundentes da
guinada mundial para posicionamentos conservadores mais radicais, como o Brexit
na Comunidade Europeia, a eleição de um presidente neoliberal na Argentina, o
impedimento da presidenta democraticamente eleita no Brasil, a eleição de Trump
nos EUA...Também não analisa como esta guinada está afetando a América Latina
como um todo, na qual a Venezuela é, ainda mais que o Brasil, o exemplo mais
contundente do que pode acontecer a um país detentor de recursos energéticos
estratégicos cujo governo eleito não se curva aos interesses dos agentes da desordem
mundial vigente.
Pudera o
livro de Moniz Bandeira fosse lido e compreendido por todos aqueles no mundo
para quem liberdade e identidade (igual a soberania), justiça social e
responsabilidade sobre o Planeta Terra sejam valores acima das nefastas ambições
pessoais de posse e poder. Desta compreensão depende a possibilidade dos povos
não serem rebanhos tangidos por consensos construídos por poderosos meios de
comunicação que estão a serviço da total dominação. Povos arrebanhados só fazem
sustentar os golpes e os oportunistas de plantão que submetem e destroem nações.
E vida
longa a Moniz Bandeira. Que sua inquestionável capacidade de acessar e integrar
fontes documentais ainda nos brinde com um volume destinado à América Latina e
ao Brasil.
Fiquei com vontade de ler esse livro.
ResponderExcluirO livro parece ser muito bom. Belas palavras. Tenho minhas teorias da conspiração em relação a muitas coisas, por exemplo, a nossa "crise financeira", e por aí vai. Abraço Professor Mario e mais uma vez parabéns pelo blog.
ResponderExcluirHenrique Pontes