Em janeiro último, na postagem sobre o crime-tragédia Brumadinho neste blog, o
Professor de História Luis Fernando Cerri escreveu o seguinte comentário: “Brumadinho,
infelizmente, virou uma metáfora do que está acontecendo - economicamente, politicamente,
socialmente - no Brasil como projeto de nação e de civilização.” Que tristeza ter de reconhecer quão certas estão
estas palavras: nosso imenso país, tão vasto, promissor e rico, nos dá mostras
de que se encontra num deplorável caminho de desestruturação social, um
marcante retrocesso civilizatório.
E não é só Brumadinho. O show midiático da prisão dos
bodes expiatórios assassinos de aluguel de Marielle Franco, enquanto os
mandantes permanecem irrevelados, protegidos por membros dos órgãos que os investigam,
é outra dura evidência do cinismo que vivemos. A incivilidade do assassinato da
cidadã Marielle revela que o crime banalizou-se nas altas esferas do poder, e é
ocultado pelas autoridades que deveriam investigá-lo. Talvez estivéssemos num
regime mais veraz se fôssemos uma ditadura onde os opositores são
sumariamente executados, e não viveríamos a farsa deste regime em que se
executam as vozes contrárias e imputamos o crime à índole hedionda de bodes
expiatórios.
Mas as farsas de Brumadinho e de Marielle não são as
únicas a nos revelar a hipocrisia e o desatino de nossos tempos. Que dor ver o
maior estadista que o Brasil já teve, o metalúrgico sindicalista que o destino
alçou ao papel de líder dos brasileiros simples e com capacidade de discernir, e
projetou-o mundialmente por seu empenho na soberania do país e na diminuição
dos abismos sociais, ser tratado como bandido, humilhado, caluniado e privado
de direitos humanitários mais básicos, que não são negados nem ao maior
facínora. Lula é agora odiado por parcela do povo que ele tentou emancipar, que
reage com reflexos condicionados, como cães amestrados.
O país perdeu a noção, perdeu o rumo. A chacina na escola
de Suzano, na Grande São Paulo, em que jovens transtornados invadem o antigo
colégio para premeditadamente executar professores e alunos, aparentemente
movidos por algum tipo de ressentimento e vingança, é a apoteose da patologia
que tomou conta do país. Esta patologia mostrou seus primeiros sintomas em
2013, agravou-se em 2016 e atingiu estado crítico em 2018, quando não surtiram
efeito frases como “se a apologia da
tortura não é suficiente para tocar seu coração, então todos os outros
argumentos são inúteis”, que circulou na web. Apesar dos alertas, o Brasil
elegeu para governantes fantoches despreparados e entreguistas a serviço dos interesses
estrangeiros que desejam rapinar o país e seu povo.
Mas a História nos mostra que é errando que a Humanidade
aprende. Indiscutivelmente evoluímos, ou estaríamos ainda nas cavernas. Mas
precisamos cometer erros, que depois nos parecem absurdos, até enxergar o
caminho certo. São retrocessos efêmeros, depois seguimos adiante. Que estes
colossais erros que temos cometido nos acordem, que deixemos de ser gado
tangido, com convicções manipuladas pelas baixezas da grande mídia e das redes
sociais.
Que os brasileiros voltem a acreditar no sonho de uma
nação soberana, justa, pacífica e honrada.
Tomara que aprendamos com os nossos erros.
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