(discurso proferido na cerimônia de posse à Cadeira nº 7 da Academia de Letras dos Campos Gerais em 20/03/2019).
Prezados
Diretores e Membros da Academia de Letras dos Campos Gerais e convidados, autoridades já nomeadas, boa noite.
Acredito que vivemos um momento singular na história do
país, e do mundo, em que as artes andam negligenciadas. E que, sem a arte para
nos despertar a sensibilidade, a compreensão e a tolerância, a percepção do outro
e o convívio afetuoso são muito prejudicados. As artes literárias, como todas
as artes, têm papel fundamental a cumprir neste momento. As artes propiciam
experiências estéticas, lúdicas, afetivas e reflexivas essenciais para o pleno
desenvolvimento do caráter e da cidadania, principalmente dos nossos jovens.
Considero que vivemos a civilização da informação, e da
barbárie que com ela se comete, pela falta de sabedoria, de discernimento, de
compaixão. Mas acredito nos aprendizados que a vida nos impõe. Que tenhamos sensatez
para fazer uso das palavras dosando com ponderação a obediência e a
transgressão das normas. Pois para progredir é preciso por um lado conhecer e
respeitar a tradição e por outro ousar para inovar, para transformar. Oxalá
tenhamos sempre o equilíbrio entre as raízes, que nos consentem conhecer e
reverenciar o legado dos que nos antecederam, e as asas do desprendimento e da
ousadia, que nos impelem ao novo, ao sonho, à utopia.
As palavras têm muita força, às vezes insuspeita. Basta
perceber a reação que atualmente provocam em nós certas palavras disseminadas
nas novas mídias, que nos assaltam a qualquer momento, em qualquer lugar.
Que falta nos faz hoje estarmos focados em outras
palavras, tais como ética, solidariedade, discernimento, sabedoria, esperança, compaixão.
Se nos propomos a zelar pela força transformadora das palavras, temos que nos
comprometer com o uso que se faz delas e de seu significado.
Tomemos o exemplo de uma palavra que atualmente tem sido
bastante mencionada: comunismo. E tomemos uma afirmação de Frei Betto para se
ter uma ideia da controvérsia que paira sobre a força desta palavra:
“... todo verdadeiro
comunista é um cristão, embora não o saiba, e todo verdadeiro cristão é um
comunista, embora não o queira.” (Frei Betto no livro
“Aquário Negro”, Editora Agir, 2009).
Lembremos que Frei Betto (Carlos Alberto Libânio Christo)
é um frade dominicano, um dos expoentes da Teologia da Libertação, premiado
escritor de mais de uma centena de obras (ganhou, entre muitos outros prêmios,
o Jabuti em 1982 e o Juca Pato em 1985 pela obra Batismo de Sangue, e de novo o
Jabuti em 1985 pela obra Típicos Tipos – Perfis Literários).
É o uso da palavra com o intuito de revelar, libertar,
emancipar, que desejo seja meu guia. E, procurando empatia deste meu desejo com
os escritos do Patrono e do Fundador da Cadeira nº 7 da Academia, que ora
assumo, encontrei estes:
“Nunca foi tão
necessário repetir ao mundo a mensagem da salvação, porque nunca esteve ele tão
afastado de Jesus Cristo. O laicismo se tornou anticristianismo, Jesus está
sendo, mais do que nunca, expelido da vida civil, social e política e
crucificado nas almas dos crentes. Quantos cristãos vivem como pagãos.”
(trecho da Carta Pastoral “Preparação e Fruto”, 1963, de
D. Antonio Mazzarotto, Primeiro Bispo da Diocese de Ponta Grossa, de 1930 a
1965, Patrono da Cadeira nº 7 da ALCG – trecho extraído da tese de doutorado da
Professora Rosângela Wosiack Zulian, 2009).
Neste texto de D. Antonio Mazzarotto podemos substituir “a mensagem” por “a palavra”. Parece-nos que a palavra cristã encontra-se hoje ainda
mais incompreendida que nos idos de 1963.
De Gabriel de Paula Machado, escritor, pianista e
conceituado farmacêutico especializado em análises clínicas, Fundador da Cadeira
nº 7, encontramos as seguintes palavras:
“NÃO ME PERGUNTES
o que é liberdade!
Se tu não a conheces
é porque não a tens
e ninguém, ninguém...
pode ensinar-te o que
ela é.
Exceto tu!
Tu mesmo!”
(do livro Crônicas
e Poesias, Editora da UEPG, 1999).
Neste caso, as palavras do poeta alertam-nos sobre como
encontrar a liberdade, tão ameaçada nos dias atuais.
Diferente de como tenho sido profissional geólogo e professor,
não sou um escritor empenhado, organizado e pesquisador. Sou mais um escritor
diletante, movido pela inspiração, criativa mas incerta, intermitente,
distraída, despojada. Acho que manifesto no pesquisador, professor e escritor
as diferenças e a completude entre ofício e arte. Acredito muito na
possibilidade da arte literária emaranhar-se nas lides cotidianas e assim
colaborar para que as pessoas se tornem partícipes humanizadas nas urgentes
transformações que o momento que vivemos está a demandar.
Não tenho cartão de crédito, não tenho facebook nem
instagram, não uso celular, não tenho plano de saúde, não tenho gravata nem
terno, muito menos colete social. Mas tenho crédito, procuro manter-me
conectado com o mundo, até o momento tenho tido saúde. Embora seja avesso a
formalismos, procuro apresentar-me dignamente, mantenho minha naturalidade mas
respeito o jeito de ser diferente. E tenho convicções e propósito.
Para finalizar, ratifico o compromisso de dedicar-me com
desvelo às finalidades da Academia. Espero que minha atuação venha a fazer jus
ao desígnio da palavra e à honra de ter sido acolhido como vosso confrade.
Muito obrigado.
Parabéns, poeta!!!
ResponderExcluirParabéns e muitas felicidades, e que possamos ler muitos de seus poemas .
ResponderExcluirSérgio,
ResponderExcluirVc sempre foi assim , avesso às formalidades , desde tenra idade, o que causava estranheza a todos que tinham, como eu a oportunidade e alegria do convívio com sua família e com vc.
Eu me emocionei com essas palavras verdadeiras desnudando grande homem que lutou incansavelmente por um mundo mais digno e menos materialista e cruel.
Parabéns !!!
Avante , amigo querido😘
Mais que palavras, seu texto demonstra sensibilidade, coisa que anda muito em falta por ai. Por isso parabéns amigo por mais essa conquista.
ResponderExcluirabs. Carlos SA
Parabéns, Mário Sérgio!
ResponderExcluirParabéns Mário. É difícil nos retratarmos. Mas depois de 43 anos do início de nossas trilhas como geólogos, sem contar banco de escola, enxergo em seu texto o indivíduo e o profissional ético e solidário, de mente curiosa e observadora que caminha da geologia para poesias e crônicas com inspiração e com o mesmo brilhantismo, enxergo meu amigo. SUCESSO !
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