Ofício da deputada federal Aline Sleutjes (PSL-PR) ao
Ministério do Meio Ambiente solicita a revogação de decreto de 2006 que criou o
Parque Nacional dos Campos Gerais. Esta notícia tem alvoroçado a mídia local, leva
a crer que o parque seja um estorvo que prejudica a região. A deputada
argumenta que o parque foi decretado há muito tempo, demora demais para ser
implementado e que os proprietários da área não têm recebido indenização pela imposta
redução das atividades. Alega ainda que
a área do parque já se encontra protegida, o que não é verdade.
O problema parece estar sendo abordado às avessas. Ao
invés de solicitar a extinção do parque, a deputada e os ruralistas que ela
representa deveriam estar empenhados em fazer com que o governo conseguisse as
verbas necessárias e enfim implantasse o parque, com a devida indenização dos
proprietários. Pedir a extinção do parque, numa comparação sarcástica, seria como
se uma família para quem empregadores deixaram de pagar os salários devidos,
diante da fome do filho, resolvesse desfazer-se da criança, ao invés de ir à
luta para receber o que tem direito. A deputada poderia direcionar seus
esforços para que as multas de crimes ambientais (como Brumadinho, Mariana,
derrames da Petrobras e tantos outros) fossem de fato pagas, e destinadas para
a implantação definitiva das unidades de conservação.
Qual a utilidade, do parque? Por qual motivo toda a
população, a começar pelos ruralistas que querem extingui-lo, deveria
empenhar-se em defendê-lo? Uma unidade de conservação, bem como as áreas de
proteção permanente, têm a função de contribuir para manter as condições
ambientais equilibradas, e assim garantir a vida. A proteção ambiental é uma
prioridade mundial desde desastres acontecidos a partir da década de 1960,
quando os países começaram a implantar políticas e legislação pertinente. Quem
ainda não percebeu isso está mais de cinquenta anos atrasado. Ou ainda não superou
a ganância cega do lucro rápido, e não a substituiu pela responsabilidade do
cuidado com o interesse coletivo, com a vida no planeta.
As unidades de conservação e áreas de proteção permanente
não são um capricho para deleite de ambientalistas sonhadores. Elas são
prioridade em protocolos internacionais porque se aprendeu que é necessário que
existam, entre áreas modificadas pelo ser humano (agrícolas, urbanas,
silvicultura, etc.), áreas que propiciem os chamados serviços ambientais
essenciais: equilíbrio no ciclo hidrológico, influenciando nos mananciais, no
clima, nos solos; equilíbrio na biodiversidade, influenciando no controle de
pragas agrícolas, de vetores patológicos (mosquitos da dengue, febre amarela,
etc.), de agentes polinizadores (abelhas, besouros, vespas, etc.); preservação
do patrimônio genético (aplicação em fitoterápicos, fibras e materiais
industriais, etc.); estoque de carbono no solo e na cobertura vegetal (efeito
estufa) e outros. Estes serviços influem diretamente inclusive na economia.
Que o Ministério do Meio Ambiente comporte-se como tal, e
alie-se à luta pela implantação definitiva do parque nacional, bem como outras
demandas ambientais prioritárias. Caso contrário, mais pareceria tratar-se do
Cemitério do Meio Ambiente.
O atual governo está pouco se lixando pro meio ambiente. Nossos representantes na verdade só representam a eles mesmos e seus interesses. Ainda bem que existe lucidez em pessoas como você, meu pai, que lutam pra que essas barbaridades não passem em branco.
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