Marcam-me a memória dois trágicos e pungentes erros
involuntários, tomei conhecimento deles pelo noticiário, já lá se vão décadas.
Um deles foi o de um pai que, durante as férias, foi
encarregado pela mãe de, logo após o almoço, levar o filho de três anos à casa
da avó. Nesse meio tempo, um colega de trabalho pediu-lhe uma ajuda inesperada.
Ele, de carro, no caminho deu uma passada, era para ser rápida, pelo escritório.
O filho adormecido na cadeirinha, não quis acordá-lo, resolveu deixá-lo ali no
carro fechado, estacionado ao relento, enquanto rapidamente atendia ao pedido
do colega. Envolveu-se na questão de trabalho, esqueceu do filho. Só lembrou
quando recebeu o telefonema da preocupada avó. A criança não sobreviveu, nesse
meio tempo o sol, antes oculto atrás de nuvens, aparecera inclemente.
O segundo trágico erro foi o da tripulação do avião de
carreira levando passageiros de Marabá a Belém, à noite. Saindo de Marabá, o
rumo do avião deveria ter sido fixado no azimute 27.0. Equivocadamente, foi
fixado em 270. O erro só foi percebido tarde demais. O avião encontrava-se em
meio à Floresta Amazônica, sem combustível. O resultado foi um pouso forçado em
meio à selva, com o triste saldo de três dezenas de mortos ou gravemente
feridos. Piloto e copiloto sobreviveram. O erro foi consequência de uma alteração na maneira de programar os
instrumentos de bordo, implementada poucos meses antes do acidente.
Quando relembro estes dois casos, rezo para que os
envolvidos tenham conseguido perdoar a si mesmos pelos involuntários trágicos
erros dos quais foram protagonistas. Imagino que eu mesmo poderia ter cometido
erro parecido. Seria capaz de perdoar-me?
Mas nos tempos atuais, não consigo deixar de comparar
aqueles trágicos erros com o que estamos vivendo neste momento no Brasil. O
país desgovernado frente à pandemia do Covid-19 já conta dezenas de milhares de
perdas humanas, que poderiam ter sido evitadas. E ainda nem chegamos ao pico do
contágio. E o erro não se limita à desfaçatez com a pandemia, a qual está
ajudando a esconder outros erros, econômicos, sociais e diplomáticos. O Brasil
tornou-se ameaça e piada internacional.
O erro neste caso teve muitos protagonistas. Todos
aqueles que acreditaram na promessa de um governo sem os vícios de corrupção e
da velha política clientelista são os
protagonistas deste erro. Involuntário? Para alguns sim, para outros não. Não é
possível alegar desconhecimento do erro. O que esperar de quem escancaradamente
defendia a tortura, exaltava milicianos criminosos e o armamentismo, vociferava
descrença na democracia e na justiça? Ainda assim, confundidos pela mídia
facciosa e pelas eficazes tecnologias de desinformação, muitos foram iludidos,
e cometeram o erro involuntariamente. Por esses, rezo também para que perdoem a
si mesmos, para que reconheçam o erro cometido, e ajudem a repará-lo e a remediar
suas consequências.
Entretanto, muitos incorreram no erro intencionalmente,
tendo plena consciência dele. Pelo fato de se identificarem com a violência e a
insanidade nele contidas. É aquela estridente fração da população lacaia de
Tânato, regida pelo segregacionismo nascido do medo e do egoísmo. Falta-lhe humanidade.
Estes não estão a carecer que lhes inspiremos perdão.
Estes carecem de iluminação, de discernimento. E muitos, de internação.
Brilhante, lúcido e com sobra de Humanidade. É o mínimo que se pode dizer deste artigo!
ResponderExcluirPerfeita análise.
ResponderExcluirNada a acrescentar.
Como poderia divergir de seu texto , que a luz celestial ilumine todos os seres humanos a tempo , quanto ao auto perdão , uma missão muito difícil
ResponderExcluirSempre em sintonia com assuntos que devem interessar cada vez mais a atenção e reflexão dos brasileiros que acompanham a 'velha política' se acomodando aos podres poderes, novamente, que se registrem aqui aplausos aos 'trágicos erros' apontados pelo articulista de plantão permanente. Eduardo Gusmão, jornalista e membro da Academia de Letras dos Campos Gerais
ResponderExcluirEste texto realmente mostra oe erros que se cometem ao criticar o outro. Estou lendo o livro "A corrupção da inteligência, intelectuais e poder no Brasil", para conhecero resultado de quem descobre que errou. É dificil julgar quando o outro não mostra a verdadeira intenção. Esta é a política brasileira
ResponderExcluir