Publicado no Jornal da Manhã em 31/12/2020.
Não sei se estava
sonhando ou aconteceu mesmo, mas eis que surge aquele gênio diante de mim
perguntando: ─ Quais são seus desejos para 2021? ─ Antes que, refeito do susto,
pudesse responder, ele acrescentou: ─ Nada de pandemia, desgoverno, caos
social, Amazônia, vacina... Os pedidos têm que ser pra você mesmo, como pessoa,
cidadão, indivíduo.
Tive de mudar o que
já estava matutando. Então o pensamento foi bem objetivo, mesquinho,
previsível: dinheiro, saúde, poder, posses, celebridade, sexo, drogas & rock’n’roll? Aí bateu uma desconfiança: e se aquilo fosse um teste? Resolvi
tentar pedir coisas que fossem sim pessoais, mas que contribuíssem também para
o social, o coletivo. Sem tardar, mandei ver: ─ Quero respostas! O que é mais
importante? Essência ou aparência? Amor ou discernimento? A força da
argumentação ou a força bruta? Verdade ou ilusão? Virtuosismo ou pragmatismo? ─
Após um ligeiro espanto, o gênio deu uma ruidosa gargalhada, disse que não me
daria respostas, mas sim a chance de encontrá-las por mim mesmo. E, com um ar
de malandro, assim como surgiu, sumiu.
De pronto comecei a refletir.
Quais pedidos deveria ter feito? Bem, a vida existe neste mundo encarnada no
ser humano. Desejaria, então, que este ser seja sadio: o corpo e suas funções,
as emoções, os sentimentos, a psique, o intelecto, a própria alma; que ela
tenha a luz da compreensão.
Em seguida, desejaria
o discernimento. Parece-me que, depois de livre da prisão do eventual corpo não
sadio, o discernimento libertará da prisão do pensamento e das emoções torpes.
Discernimento parece
ser a raiz da compreensão, e do próximo desejo: o amor. E tudo que ele
significa: amizade, compreensão, zelo, dedicação, atenção, lealdade, confiança,
alegria, leveza, cultura, arte, beleza, esperança... A palavra amor tem um
sabor estranho: anda vulgarizada e deturpada, mas significa algo
extraordinário. Desejaria o amor pleno, pelo que sou, pelo próximo, o
conterrâneo, os que vivem do outro lado do mundo, os antepassados, os que ainda
virão, o lar, os seres vivos, o planeta Terra, o Sol que nos energiza, a
imensidão do borrão de estrelas do céu, que com seu encantamento nos revela a
real dimensão humana.
Depois de saúde,
discernimento e amor, se ainda não esgotei o repertório de bênçãos a que teria direito,
pediria a força da intenção. Vontade para cooperar na transformação deste mundo
no qual, não sei por quais desígnios, vim acontecer. Decerto com saúde,
discernimento e amor, haveriam de ser boas intenções, e, dotadas de energia,
seriam realizadoras, transformadoras. A engenhosidade humana e a generosidade
do planeta, que tudo nos dá, se bem orientadas pela força de nossa intenção,
hão de transformar a humanidade, fazendo prevalecer a solidariedade e a
prosperidade.
O próximo desejo, a
liberdade... Epa! Vou parar por aqui. A lista de bênçãos a desejar não teria
fim. Alcançada uma, outra a sucederia. O essencial é que desejemos. E que
saibamos a hora de parar.
Oi Sérgio ,
ResponderExcluirEspetacular sua astúcia , imobilizou o gênio. Adorei.
Que todos seus desejos se cumpram, quero as mesmas bençãos.
Marlene Castanho
ResponderExcluirMário Sérgio, não se preocupe..., O gênio apareceu sim. E também não se assuste, porque tive a nítida impressão de que ele encarnou em você. Não há como negar, pois suas perguntas foram sábias e as respostas geniais, recheadas de boas intenções. E muito obrigada, pois vou me servir de todas elas 😁. "Feliz 2021, Brasil" Igualmente para toda a humanidade...
Amei ♥
ResponderExcluirCompanheiro: bela crônica pra começar o ano com o pé direito. Que ele seja de muito amor, crescimento espiritual e entendimento sobre o que estamos e podemos fazer aqui.
ResponderExcluirPS- Mais uma pra distribuir pra minha lista de amigos e amigas.
abs.