sábado, 19 de fevereiro de 2022

EUA versus Rússia - precisa-se de uma guerra

Parece mesmo que a humanidade não sabe viver sem guerras. No ótimo filme A fonte das mulheres (direção de Radu Mihaileanu, 2011) há uma significativa passagem, em que as mulheres, encarregadas do trabalho mais pesado, dizem aos homens, ocupados em matar o tempo bebendo e falando da vida: “─ Vocês só sabem o que fazer quando há guerra, sem ela ficam perdidos!” Hoje, as sequelas emocionais e sociais dos estadunidenses retornados da guerra ─ é o país mais guerreiro da atualidade ─ parecem comprovar que, sem a guerra, os homens desorientam-se, perdem o rumo, adoecem ou tornam-se criminosos.

Há muitos tipos de guerras: as grandes guerras de conquista e expansão, como do Império Romano, do Mongol, do Turco-Otomano; guerras de extermínio, como fizeram ingleses, franceses, espanhóis e portugueses com os nativos americanos; guerras contra o colapso pela escassez de recursos, como fez o Japão; guerras de vassalagem, quando países guerreiam a serviço de outros, como na Guerra do Paraguai; guerras contra povos e estados vizinhos tornados inimigos viscerais, como é em Israel; guerras em defesa de fronteiras, como na Coréia e Vietnam; guerras religiosas, como na Irlanda; guerras fratricidas, incitadas do estrangeiro, como na Nigéria e em Ruanda; guerras pela criação da nação de um povo sem território, como tentam os curdos; guerras geopolíticas e por recursos energéticos e minerais, como no Iraque e Afeganistão; guerras complexas, com múltiplas motivações, como foram as duas grandes guerras...

Há ainda guerras “de encomenda”, como foram as guerras das Malvinas e do Iraque: governos enfraquecidos, da ditadura militar argentina e do republicano Bush, precisavam declarar guerras para unir a nação e tirar o foco de agudos problemas internos. Existiriam também “guerras inventadas”. A comédia ficcional Mera coincidência (original em inglês Wag the dog, algo como “abane o cachorro no lugar da cauda”, direção de Barry Levinson, 1998) mostra a invenção midiática de uma guerra na Albânia para esconder um escândalo sexual envolvendo o presidente dos EUA.

As controvertidas acusações feitas de lado a lado entre Rússia e EUA parecem indicar-nos que está em curso outra “guerra inventada”. Embora, neste caso, muito mais embasada em fatos verídicos que no filme Mera coincidência. A Ucrânia, país que tem a infelicidade de situar-se em local geopolítico criticamente estratégico, é agora o possível palco da catarse dos instintos bélicos da humanidade. Por enquanto, parece mesmo que a guerra está sendo inventada pela mídia, insuflada para desencadear uma guerra real. E esta cogitada guerra real parece só confirmar que hoje se trava no planeta uma nova guerra de “total dominação”, como no tempo de Alexandre Magno, dos romanos e dos mongóis.

No Brasil, na América Latina e noutros territórios sob o domínio do hegemônico império ocidental atual, os EUA, trava-se um novo tipo de guerra: as chamadas guerras híbridas e revoluções coloridas. As armas principais são políticas, cibernéticas, midiáticas. Armas sofisticadíssimas, capazes de fazer um povo depor líderes nacionalistas e humanistas para, em seu lugar, entronizar insanos ditadores entreguistas, fantoches do império.

Agora, o império está em crise, econômica, política, social. A guerra do Afeganistão exauriu-se, não era mais sustentável. Outra derrota vexaminosa, comparável ao Vietnam. É preciso encontrar logo outra guerra, que disfarce a vergonha, arrebate corações e mentes, una o combalido império, sacie a colossal indústria da guerra. E dê razão de existir e sobrevida a seus adictos guerreiros.

 

3 comentários:

  1. O pior de tudo é que o povo acredita.

    ResponderExcluir
  2. A crise de agora é moral e financeira, por isso a busca frenética por venda de armas e extermínio de jovens. Que aliás deveriam se negar a entrar no jogo dos governantes , já que o alvo são eles.Que do!

    ResponderExcluir
  3. Qual o sentido de se fabricar armas potentes?! EUA, Rússia, Coreia do Norte, e alguns mais discretos nesse "quesito" de investimento bélico diabólico, estão em crise de ansiedade: experimentar suas invenções de extermínio é o q os move... Em algum lugar do planeta, infelizmente, uma hora ou outra uma guerra pode acontecer. Inclusive por aqui, onde matar vai se tornando banal. Que sina é essa que estamos vivenciando, gente!

    ResponderExcluir

Aos leitores do blog que desejarem postar comentários, pedimos que se identifiquem. Poderão não ser postados comentários sem identificação.