Neste último domingo, finalmente, depois de 27 anos
morando em Ponta Grossa, a esposa e eu nos animamos a ir ver um jogo do Operário
Ferroviário ─ vulgo Fantasma ─ no Estádio Germano Krüger ─ vulgo Vila Oficinas ─
na cidade. Que demora! Uma combinação de fatores cooperou para a tão adiada ida
ao campo de futebol, que não fica longe de nossa casa na Vila Estrela: uma
tarde de domingo de tempo muito agradável, horário amistoso, no meio da tarde,
e, principalmente: o adversário do Operário seria o CSA de Maceió, time de
coração da minha esposa alagoana.
Formávamos então um casal peculiar na arquibancada
coberta do estádio, onde quase todos vestiam camisas alvinegras listradas do Operário: eu torcedor do Santos, o Operário como segundo time; ela torcedora do
Corinthians, e depois CSA, Flamengo e Operário, não sei bem dizer em que ordem.
Tive de pedir a ela que não comemorasse muito efusivamente caso o CSA marcasse,
não sei qual seria a reação dos operarianos à nossa volta. Notava-se que eles
estavam muito enfurecidos, seu time do coração parecia não estar correspondendo
às expectativas da aficionada torcida. Mas encontramos um estimado amigo,
devidamente uniformizado. Juntar-nos a ele foi um alívio.
A mim parece que o jogo foi sofrível: pouca
técnica, muitas faltas, poucas jogadas bonitas e ocasiões de gol. Ironicamente,
vimos um gol marcado pelo CSA, contra sua própria meta, e a vitória do Operário:
1X0. Um gol e um placar que bem refletiram a partida. Mas tenho de reconhecer,
embora os dois times tenham me parecido muito fracos, ambos foram empenhados e
aguerridos. Mais fracos que meu Santos de sempre, mas com mais alma que o time para o qual aprendi a torcer escutando com meu pai, pelo rádio de ondas curtas ─ eu com
menos de dez anos ─, o Peixe, com Pelé, conquistando campeonatos mundiais.
Se já há 27 anos adiávamos a ida ao estádio perto
de casa para ver o Operário, há exatamente 40 eu não ia ver um jogo no campo.
Foi uma experiência agradável, apesar da partida não ter sido das mais emocionantes.
É muito diferente de acompanhar um jogo pela televisão: ter a visão completa e
pessoal da arena, sentir o clima dos torcedores e dos jogadores, dentro e fora
das quatro linhas, são sensações únicas.
Mas um detalhe, que talvez muitos não tenham
percebido, capturou-me a percepção e marcou-me a memória daquele domingo à
tarde: no início do segundo tempo do jogo, a luz do dia já se esvaindo, um par
de curucacas subitamente assomou voando alto por detrás da cobertura das
arquibancadas, e tão rápido quanto surgiu deu meia volta e retornou para os
gramados de treinamento detrás do estádio, de onde tinham vindo. Fiquei com a
nítida impressão que eram frequentadoras habituais do gramado de Vila Oficinas
nos finais de tarde, e foram surpreendidas, assustaram-se com a multidão de
torcedores e os inquietos jogadores que tinham invadido seu pasto. Como se
sabe, curucacas são aves adaptadas à vegetação nativa dos Campos Gerais do
Paraná; a esposa e eu não as conhecíamos antes de mudarmos para cá. Para elas,
pastar nos gramados dentro da cidade deve ser um privilégio. É capaz mesmo que,
assíduas no campo do Operário, até já tenham sido batizadas pelo pessoal da
casa. Gaspar e Lilith, talvez?
Fiquei também a pensar se não foram as curucacas
que assombraram o time do CSA e provocaram o gol contra que deu a vitória ao
Operário. Será?
Primeiro time do coração... Segundo time do coração... Do coração, porque de audiência sou bem fraca, tanto para o Fantasma, o primeiro, quanto para o Santos, o segundo, o qual me foi emprestado por um aluno, anos atrás. E fiquei feliz com o empréstimo e adotei, mas seguir tabela já é outra conversa...
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