Publicado no Jornal da Manhã em 10/06/2023.
Há quem, reagindo com o fígado a graves questões
ideológicas e políticas, abrace o “quanto pior melhor”, uma versão do “quero
ver o circo pegar fogo”. Gente que desdenha a sorte das gerações futuras e do
Brasil nação. Mas na eleição de 2022 para a presidência no Brasil, os eleitores
votaram no avanço. Venceu o sonho de um país com justiça social, próspero e
soberano.
Anos de retrocesso tivemos desde as “jornadas de
junho” de 2013, que culminaram com o golpe que afastou Dilma e o lawfare que prendeu ilegalmente Lula e
gerou a criatura Bolsonaro. Retrocesso moral, ético, civilizatório, econômico.
Sim, econômico! Ainda não foram revelados todos os rombos deixados pelo
desgoverno vencido nas últimas eleições. Há quem diga que a economia foi bem.
Foi? Sim, o agronegócio rendeu muito. Graças à valorização das commodities
agrícolas no rastro de guerras e crises internacionais. Quem ganhou com isso? A
população? Não! Foram os grandes proprietários rurais. Nos últimos anos os
ricos ficaram ainda mais ricos, e os pobres ainda mais pobres.
Agora ressurgem os antidemocratas, de novo mal agourando
anos de retrocesso para o governo Lula. Os mesmos que, após a reeleição de
Dilma em 2014, não só boicotaram, mas sabotaram o governo que tentava diminuir
os abismos sociais no Brasil. Fizeram de tudo, desde sonegar investimentos e
contratações, promover demissões, sonegar estoques, fomentar paralizações e até
alimentar a boataria alarmista negativista que apavora o leviano deus mercado.
A lógica reacionária antidemocrática é a lógica do
lucro absurdo de uns poucos que se locupletam às custas da maioria da
população, mantida na pobreza. Liberdade, nessa lógica nefasta, é poder
continuar explorando o trabalhador, em benefício da atrasada elite econômica,
que ainda não superou a monarquia e a escravatura. É a lógica do Estado mínimo
e do mando do interesse privado, que submete não só o cidadão, mas todo o
aparato de governo. Essa é a lógica que promove a obscena concentração de
renda, a precarização do trabalho e a disseminação da miséria. É a lógica que
origina a secular guerra social, a criminalidade e a insegurança. A verdadeira
prosperidade alicerça-se não nesta perversa lógica, mas na justiça social, na
igualdade de oportunidades, na valorização do trabalho, na distribuição de
renda e no fomento à dignidade humana.
A liberdade do indivíduo vai até onde começa a
liberdade do outro; daí a necessidade de governos fortes e com propósito. A
China soube aplicar este princípio. Por esse motivo, após livrar-se dos impérios
que a sangravam, imunizou-se contra interesses alienígenas e impôs severa
regulamentação estatal sobre a atividade privada. Por isso prospera econômica e
socialmente.
Há íntima cumplicidade entre a elite brasileira
movida pelo lucro e interesses hegemônicos internacionais, econômicos e ideológicos.
Os privilégios e ambições são mantidos à custa de intervenções armadas,
embargos, especulações de mercado, golpes contra democracias, guerras
midiáticas, cognitivas e jurídicas. Países que tentam manter-se soberanos
frente à voracidade do império são demonizados. Ou são embargados, ou sofrem
golpes para entronizar tirânicos governos fantoches, ou foram já invadidos,
destruídos e subjugados. Cuba, Venezuela, Chile, Vietnam, Afeganistão, Iraque, Irã,
Síria, Líbia, Brasil, Ucrânia são só alguns dos muitos exemplos.
A elite antidemocrática não vai largar o osso. Não
vai deixar de apostar no “quanto pior melhor” enquanto o governo for de viés
popular e contrariar sua ganância. Cabe então ao povo assumir seu papel na
História.
Perfeito, Mário. Ótima crônica.
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