Publicado no Jornal da Manhã em 26/08/2023.
O apagão que tumultuou o Brasil no dia 15
de agosto último foi muito revelador. Até o dia seguinte as autoridades ainda
não conseguiam ─ ou ainda não ousavam ─ revelar as causas. Mas admitiam que o
sistema brasileiro é interligado, e que o problema num determinado local pode
originar um efeito dominó de consequências nacionais. E também admitiam que as
causas poderiam ser devidas a “falha humana ou até dolo”. Ou seja, não sabiam
dizer se poderia ter sido um acidente ou uma sabotagem, algo premeditado.
Este apagão não poderia ter vindo em hora
mais adequada para uma advertência: na véspera, o governo do Paraná vendia a
antes estatal Copel ─ Companhia Paranaense de Energia ─ na bolsa de valores de
São Paulo. Antes, a Eletrobrás já fora privatizada, em 2022. E, num sistema
integrado como reconhecem as autoridades, onde um colapso localizado pode
estender-se nacionalmente, as empresas de energia estaduais assumem a mesma
importância estratégica da nacional. O possível dolo, ou seja, a possibilidade
de uma sabotagem, aventado pelas autoridades, pode ter origem numa estadual, ou
na nacional.
No Brasil ainda não aprendemos que o mundo
vive um momento de conflitos e disputas que não dispensam as sabotagens? Que
não é improvável que o apagão tenha de fato resultado de uma sabotagem? E que o
sistema energético do país é de importância vital, e que seu colapso
desencadearia o caos e a absoluta vulnerabilidade? E que hoje, no mundo, nações
agem como as aves de rapina que são seus símbolos, debilitando suas presas para
depois predá-las impiedosamente?
Energia, água, alimentos, combustíveis,
transporte coletivo, saneamento, comunicações, saúde, educação, pesquisa
científica, moradia... são setores vitais para um país que deseja tornar-se
soberano, próspero e inclusivo. Setores que devem estar controlados por
interesses nacionais, e não pelo volúvel e ambicioso interesse de empresas
privadas. A razão de ser das privadas é o lucro. Doa a quem doer. A razão de
ser das empresas estatais é, em princípio, a autonomia, o benefício coletivo, a
independência. Embora as estatais estejam sob ataque constante daqueles que
querem sucateá-las, depreciá-las e então privatizá-las, para o lucro e
benefício de poucos vis apaniguados.
Essa é a diferença entre governos e políticas
públicas socializantes versus privatizantes. É a diferença entre o socialismo e
o neoliberalismo. Este último propugna o “estado mínimo”, alegando que o
mercado é autorregulável, e que a estatização só atrapalha e atrasa. Que
argumento tão enganador! A prática tem mostrado, no mundo todo, que a
privatização dos setores estratégicos só traz prejuízos e retrocesso para as
nações e suas populações. Quem ganha são aqueles poucos acionistas que já estão
locupletados, mas nunca lhes basta a riqueza, nada consegue saciar sua sanha. Privatizações
de setores estratégicos têm sido revertidas em reestatizações nos países que
experimentaram os erros de acreditar na mentira da autorregulação do mercado.
Privatizar setores estratégicos, como é o
caso da energia, é entregar o país à sanha da vampiragem transnacional.
Me impressiona como e o quanto vc consegue abordar esses temas e disseca-los.
ResponderExcluirNão, a privatizações !
Ingenuidade que não é, mas a mídia não parece empenhada em explorar a possibilidade de sabotagem.
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