Publicado no Jornal da Manhã em 02/04/2024.
A luta pelo poder é uma reminiscência dos instintos básicos
de sobrevivência e dominação, que regem todas as espécies vivas. Os instintos
básicos do Homo sapiens não são
diferentes dos répteis ancestrais. Mas os seres humanos já são mais que
répteis. Evoluímos deles, desenvolvemos o cérebro límbico emocional, o neocórtex
racional e, dizem, um incipiente cérebro (hipofisário?) amoroso e solidário.
Mas ainda não evoluímos o suficiente para que a resposta comportamental e
social do cérebro reptiliano torne-se subordinada aos cérebros que nos
distinguem como humanos. Ainda somos muito os répteis!
A onipresente luta pelo poder que se observa entre os seres
humanos é manifestação dos instintos básicos do cérebro reptiliano. O empenho
em dominar não é nenhuma novidade, sempre existiu, desde a pré-história. A
novidade são atributos dados pelo cérebro límbico e o neocórtex. Hoje nos
associamos em etnias, bandos, nacionalidades, crenças, convicções... que rivalizam
ferozmente entre si. E criamos armas poderosíssimas para os confrontos
reptilianos que promovemos.
A luta pelo poder confunde-se com a luta pela posse. A
engenhosidade humana não propiciou só as armas de destruição em massa.
Propiciou também formas de exploração dos recursos do planeta e do trabalho, de
maneira que produzimos muita riqueza. Em consequência do instinto de dominação,
o preço das riquezas produzidas é calamitoso: para o planeta depredado, para as
massas de trabalhadores, exploradas e excluídas.
A consciência, a revolta e um crescente senso de
solidariedade vêm alimentando sinceras revoluções: em Paris, na Rússia, na
Nicarágua, na Venezuela... Todas elas bastante frustradas nos seus anseios
originais. Parece o vulcão que esporadicamente explode e então se acalma, para
em seguida continuar a acumular a pressão até a próxima explosão. O instinto de
dominação é inexorável; ou logra as massas revoltosas em renovados arranjos exploradores,
ou desperta a ira de tiranos alhures, que logo intervêm para debelar ameaças de
igualdade.
As revoluções sinceras, movidas pela consciência de que
existem os exploradores e os explorados, pela identidade com os explorados e
pela solidariedade e busca por uma sociedade mais justa, é a luta de classe. Sua
inspiração maior é a constatação das injustiças, e de que a Mãe Terra provê
riquezas que, se compartilhadas, significariam o bem viver para toda a
humanidade. A verdadeira luta de classe promove a inclusão dos excluídos. Uma
tarefa desafiadora: a classe dominante dispõe de todos os recursos para
defender seu domínio. Inclusive os meios de comunicação, que aperfeiçoam
incansavelmente métodos de alienação, manipulação e doutrinação.
A Páscoa tem algo a ver com a luta de classe? Ora, a Páscoa
não celebra a ressurreição daquele que foi crucificado por representar a luta
contra os opressores e a favor da solidariedade entre os oprimidos? E Cristo personificou
um desafio ainda maior: a revolta dos dominados através do amor, com paz.
Dois mil anos depois, acho que se hoje Cristo estivesse de
novo entre nós, seria de novo sacrificado. E antes, torturado na prisão de
Guantánamo, como terrorista, ameaça ao sistema.
Triste realidade. Caso voltasse encontraria o mesmo terreno árido que tinha naquela época.
ResponderExcluirNão se trata de religião e sim de filosofia de vida e até hoje não aprendemos nada.
morto por poderes políticos e religiosos
ResponderExcluirImpressionante como o ser humano avançou muito na tecnologia, mas no aspecto social teve evolução pífia, em 2.000 anos.
ResponderExcluirA Páscoa, abrindo as portas ao Novo Testamento, do Filho que apresenta o Pai, continua até hoje a nos desafiar a uma evolução mais profunda; no entanto, as Igrejas mais empenhadas em recrutar fiéis são as que se aprofundam nas práticas do Antigo Testamento, em que o valor maior era a conquista de uma Terra Prometida pela imposição de uma Lei, que representava a vontade de um Senhor, não de um Pai.
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