terça-feira, 7 de outubro de 2025

Lago de Olarias - desassorear é enxugar gelo

 

A Prefeitura de Ponta Grossa anuncia o desassoreamento do Lago de Olarias, e o faz como se fosse um trabalho de prevenção, e não o conserto de um erro. Que disparate! O assoreamento visto no lago é prova de um erro, cometido quando da inauguração do Parque do Lago de Olarias sem a adequação da bacia de captação. E este erro não é só quanto à erosão de solos expostos, fonte dos sedimentos que assoreiam o lago. É também quanto à indevida captação de esgotos na rede pluvial, destinada a recolher as águas das chuvas, erroneamente descarregadas no lago.

Inaugurar com estardalhaço um parque municipal que toda a população vê é uma coisa. Planejar corretamente o uso da bacia de captação, evitando a erosão do solo e o desvio de esgotos, medidas que os olhos não veem, é outra coisa. Os olhos não veem o erro de planejamento, mas enxergam suas consequências: no assoreamento do lago e na poluição das águas dos arroios que o alimentam.

Desassorear é um serviço caro para os cofres públicos. E, acabado o serviço, já está em curso o processo de voltar a assorear, se não se evitar a erosão dos solos na bacia de captação. E se não for feita a varrição das ruas e a eficiente coleta de lixo. Desassorear sem cuidar da bacia de captação é como enxugar gelo. Mas as empresas contratadas para o serviço devem agradecer muito que os arranjos sejam feitos assim. Já o munícipe contribuinte, continua pagando seus crescentes impostos.

Como evitar o assoreamento? Os sedimentos depositados no lago provêm da erosão de solos expostos na bacia de captação. Nas áreas urbanas, a exposição de solos resulta das muitas obras: edificações, vias, dutos, loteamentos, etc. Há várias razões para evitar a erosão: descontrole de feições erosivas, entupimento de dutos pluviais, assoreamento de canais fluviais e lagos a jusante. Por esse motivo, os municípios precisam ter legislação eficaz que evite a exposição dos solos à erosão. E fiscalização/sanções igualmente eficazes. Caso contrário, após um trabalho de desassoreamento logo o lago voltará a ficar assoreado.

A questão da poluição por esgotos é outra que não tem sido seriamente abordada. As cabeceiras da bacia de captação do Lago de Olarias alcançam a região central da cidade. Bicentenária como é Ponta Grossa, por mais que serviços recentes tenham implantado ampla rede de captação de esgotos, muitas vezes ligações antigas, até desconhecidas, continuam despejando nas redes de captação de águas das chuvas, que vão parar no lago. Seria necessário um minucioso, longo e complicado trabalho de verificação e correção. Um serviço demorado, importuno, invisível para o público em geral. Mas um serviço que significaria entender o que seja de fato sustentabilidade.

Melhor seria que os recursos públicos fossem empenhados na adequação da bacia de captação, da legislação municipal e na formação de equipes capazes de aplicar a lei. O desassoreamento agora é sim necessário. Mas é o conserto de um erro, cometido antes. Que ele sirva para se aprender a não mais cometê-lo.

domingo, 5 de outubro de 2025

O prazo de validade da Terra

 

“Prazo de validade” e “vida útil” são conceitos que se complementam e se confundem. Costumamos ver o prazo de validade mostrado, muito acertadamente, para itens como alimentos, bebidas, remédios... Já vida útil é menos óbvio e mostrado. Está embutido em tudo, na escova de dentes, na lâmpada, no pneu e amortecedor do veículo, no celular...

Visto que tudo se transforma e acaba por distanciar-se da adequação à função inicialmente prevista, estes conceitos têm lá sua justificativa. Mas precisamos ter cuidado com eles, já que podem nos enganar. Se o prazo de validade de um medicamento for subestimado, podemos acabar descartando um remédio ainda ativo. Por outro lado, se for superestimado podemos acabar confiando num remédio que já não funciona. Há que ter muito critério e honestidade para determinar o prazo que mais dê segurança e economia ao usuário. Negligência ou desonestidade podem desperdiçar o remédio ou agravar a doença.

Quanto à vida útil, mais fatores influenciam. O sistema econômico que vivemos impõe que a vida útil dos bens, sejam escovas de dentes, lâmpadas, automóveis ou celulares, seja curta. “Senão ─ dizem ─ o consumo cai, a fábrica vai à falência, o desemprego provocaria agudas crises sociais”. O que é uma inverdade, há vários setores carentes da sociedade ─ tais como saúde, educação, cultura, lazer, justiça... ─ que poderiam absorver trabalhadores. Bens que poderiam durar anos são feitos para durar meses. Ou, como na moda, que muda todo ano, poderosas campanhas midiáticas induzem o consumidor a comprar um bem para substituir um outro ainda em ótimas condições de uso, mas transformado em “ultrapassado”.

Ampliando mais a ideia, os conceitos de prazo de validade e vida útil aplicam-se também ao ser humano. A “expectativa de vida”, variável usada, por exemplo, para definir a idade mínima para a aposentadoria, parece corresponder ao prazo de validade dos bens materiais. A saúde do organismo e dos órgãos que o mantêm funcionando parece corresponder à vida útil das coisas. Há alguma correspondência entre os bens que consumimos e o nosso próprio ser. Para o ser humano, entretanto, as implicações são outras, muito mais complexas. É de se esperar que não se descartem pessoas que já não funcionam como quando eram jovens. Nem que se as obrigue a terem bom desempenho por tempo indeterminado. Mas estes são princípios éticos, muitas vezes esquecidos.

A manipulação do prazo de validade e da vida útil visando o aumento do consumo tem muitas vítimas. Uma delas é o planeta Terra. Neste ano de 2025, o “dia da sobrecarta da Terra” ─ ou “dia da pegada ecológica” ─ está sendo calculado para 24 de julho. Ou seja, tudo o que o planeta pode produzir de recursos naturais ao longo de todo este ano, até o dia 31 de dezembro, já foi consumido pela humanidade até o dia 24 de julho. Desde então, ultrapassamos o prazo de validade, ou a vida útil do planeta.

A vida útil do planeta encurta a cada ano, resultado da insana sociedade consumista e desperdiçadora que vivemos. É bom lembrar: a falência dos sistemas naturais vai afetar toda a humanidade, independente de país, raça, credo ou classe social.

Refletir sobre o consumismo que vivemos é como administrar o orçamento para não criarmos um débito impagável. A humanidade está trazendo para o presente o prazo de validade do planeta Terra, que deveria estar milênios no futuro.

domingo, 28 de setembro de 2025

O gérmen da criminalidade

 Publicado no Jornal da Manhã em 30/09/2025.

Os crimes, organizados em quadrilhas especializadas ou mesmo os ditos “crimes comuns”, parecem estar aumentando descontrolados, engolindo as instituições e os cidadãos. De quantos golpes e armadilhas precisamos escapar todo dia? Quanto o Governo gasta tentando desbaratar quadrilhas sofisticadas entranhadas no comércio, nas igrejas, no poder público? Com o auxílio das novas tecnologias, os crimes estão cada vez mais engenhosos e ousados: rouba-se dos aposentados, dos consumidores, dos internautas, dos correntistas, dos viajantes, dos distraídos...

Por que acontece este surto de criminalidade e logro? Estará a humanidade sob efeito de alguma energia maligna universal, de fonte desconhecida? Por algum motivo os preceitos éticos estão falhando, e deixando escapar impulsos primitivos que conduzem à desfaçatez, à violência, ao ódio, à ambição e ao crime. O contrato social já não está funcionando. Há transgressores demais, a sociedade não dá conta de controlar a crescente criminalidade.

Qual seria esse motivo que está subvertendo a moral e esgarçando o tecido social? É frequente escutarmos: “tem a ver com a educação”. De fato, a educação formal parece estar regredindo. O Anuário Brasileiro da Educação Básica 2025 aponta que a proporção de estudantes com aprendizagem adequada em Língua Portuguesa e Matemática caiu de 8,3% em 2013 para 7,7% em 2023. Só estas duas disciplinas não traduzem o que seja a formação de um cidadão, mas podemos refletir a partir delas. Vale lembrar que são estas disciplinas que têm sido privilegiadas nos sistemas educacionais neoliberais atuais, que priorizam a formação de um trabalhador acrítico, em detrimento de um cidadão crítico.

Os dados do Anuário são trágicos: até nas duas disciplinas enfatizadas pelo ensino neoliberal estamos regredindo! E as porcentagens de estudantes “adequados” são desastrosas. Estes dados confirmam aqueles divulgados em maio passado, de que só 35% dos adultos no Brasil são considerados alfabetizados plenos (dados do Indicador de Alfabetismo Funcional da UNICEF). Em resumo, na educação estamos retrocedendo.

Enquanto a educação no Brasil anda para trás, os cérebros brilhantes são exportados: não tivemos, nos últimos anos, programas sólidos de apoio à pesquisa científica, tanto nas áreas tecnológicas quanto nas humanas, estas incluindo a educação. Os cérebros brilhantes vão buscar colocação no exterior, onde programas consolidados garantem pesquisas consequentes.

Só a crise educacional, e o resultante afrouxamento da formação do cidadão, não explicam o surto de criminalidade. O que acontece hoje com a sociedade, a religião, a família, no desenvolvimento dos valores que distinguem o criminoso do homem de bem?

A sociedade vive a era do neoliberalismo, que pode ser assim sintetizado: dinheiro, individualismo, competitividade, lucro, amoralidade. Consequência: disseminação da pobreza, concentração da riqueza, crises sociais, injustiça, revolta e ... criminalidade. Ela significa desforra, sobrevivência, crença na impunidade. A religião e a família não resistem à pressão do bordão neoliberal: elas acabam repetindo e reforçando os mantras para vencer a qualquer custo.

Todos nós somos portadores de um lado sagrado e de outro diabólico. Estamos vivendo a era em que incentivamos o diabólico. Onde vai nos levar isso?

domingo, 14 de setembro de 2025

Pandemia de irracionalidade

 

Trata-se de uma doença que aflige todo o mundo, uma verdadeira pandemia. Parece que não há ninguém imune, ela contamina todos, com maior ou menor gravidade. É a disseminação do vírus da irracionalidade. Os sintomas são a incapacidade de discernir, a falta de concentração para poder refletir, a impulsividade que leva a um surto de intolerância, ódio e violência. Um verdadeiro distúrbio psicótico. O infectado torna-se um perigoso desmiolado.

O vírus parece ser universal, acomete todo tipo de gente: pobres, ricos, homens, mulheres, brancos, negros, evangélicos, católicos, heteros, homos, europeus, gringos, analfabetos, doutores, bandidos, juízes, psicopatas, seus filhos... Ninguém escapa. Parece existir uma correlação entre o local de moradia e a contaminação. Quem está mais exposto ao sol do Nordeste é menos vulnerável. Ainda se discute se é mesmo o sol ou algum outro motivo, como a fibra de caráter forjada na luta constante contra adversidades ambientais.

Há gente da saúde dizendo que o vírus é oportunista. Ele se aproveita da debilitação do hospedeiro contaminado, antes já enfraquecido por outros fatores. Há uma grande procura de quais sejam estes outros fatores, mas as opiniões são ainda muito contraditórias. Alguns dizem que está no DNA do infectado. Outros falam dos hábitos de higiene, até do número de idas ao sanitário a cada semana. Parece que a retenção de excrementos acabaria subindo à cabeça. Há quem diga ainda que tudo depende da educação do contaminado. Suposição pouco crível, pois vê-se muitos doutores da saúde e juízes togados acometidos com muito mais gravidade que gente muito simples. O que tem feito que se suspeite que a alimentação também influencie: quanto mais fartamente alimentado o cidadão, mais ele é vulnerável ao contágio e a sintomas mais agudos.

Médicos mais antigos, aqueles dos tempos do médico da família, dizem que se trata de uma doença dos tempos modernos. Não que não existisse antes, mas seus sintomas eram relativamente muito mais brandos, compensados por uma ética que preponderava. Perguntados, estes velhos clínicos afirmam que antes as cabeças das pessoas não eram tão conspurcadas por fatores predisponentes: Coca Cola, celular, fake news, Hollywood, Steve Bannon, inteligência artificial, mercado de capitais, depressão profunda, ansiolíticos... Esses velhos médicos dizem que os sintomas se agravaram porque a civilização atual é um caos ruidoso que atordoa o juízo das pessoas, que já não sabem o que seja justiça, liberdade, solidariedade.

Outros ainda lembram as experiências de Ivan Pavlov, do final do século XIX, que mostraram como, num cão, é possível condicionar uma reação orgânica e mental através da repetida associação de um estímulo com um fato, mesmo que depois de um tempo o fato deixe de existir; não é mais um fato, é uma farsa. Pavlov associou o som de uma sineta com a oferta de alimento para o cão. Depois dessas experiências, associou-se nazismo com vitória, judeus com bandidos, bomba atômica com justiça, EUA com democracia, comunista com comedor de criança, palestino com terrorista, consumo com felicidade...

O vírus da irracionalidade encontrou campo fértil para propagar-se.

domingo, 31 de agosto de 2025

O Brasil está sob ataque

 Publicado no Jornal da Manhã em 03/09/2025.

O tarifaço de Trump, a investida contra o Pix, a desregulamentação das bigtechs, as medidas coercitivas contra autoridades e instituições brasileiras, a instalação de bases militares estadunidenses em países limítrofes, a cizânia fomentada pelo Tio Sam contra vizinhos com quem temos antigas parcerias comerciais e diplomáticas (Argentina, Paraguai, Venezuela) revelam que somos atacados. Por quais motivos? É o momento de refletir sobre isso, e de fazer um balanço de nossas forças e fraquezas, nossas riquezas e pobrezas.

O Brasil tem predicados que o credenciam a aspirar ser uma grande nação: território continental, abundância de água potável, minérios, petróleo, energia solar, biodiversidade, mares piscosos, solos agricultáveis, clima amigável na maior parte do país, abundante população que afiança estável mercado interno, boa infraestrutura já instalada, conflitos raciais, sociais e religiosos menores que em outros países, idioma único de Norte a Sul, uma produção de riqueza relevante, rica e diversificada cultura popular. Esses predicados são nossa riqueza. Mas temos também nossas fragilidades: uma das mais desiguais distribuições de renda no planeta, educação precária, conflitos ideológicos que se acirram, corrupção enraizada, falta de um sentido de nacionalismo e de autoestima – o “complexo de vira-lata” – que faz deslumbrar-se com o estrangeiro e desvalorizar o nacional. Estas são nossas pobrezas.

Por que não somos nem sombra de EUA, China, Rússia, Índia, países que não têm todos os mesmos predicados que o Brasil? Fala-se nos motivos históricos, que fomos território para exploração e não para verdadeira colonização, como talvez tivessem feito os expulsos holandeses e franceses. Ter sido o destino de degredados do império português, a mais longeva escravatura e monarquia nas Américas, a pátria de sucessivos golpes que derrubaram governos legítimos, são outras razões da peculiaridade do Brasil.

Diante da irrefreável avidez humana pela posse e usufruto de bens, os recursos que o planeta disponibiliza estão se mostrando escassos. Como resultado, a civilização atual está deixando cair a máscara da diplomacia e da convivência pacífica. Os países armam-se para defender-se do ataque estrangeiro, ou para subjugar os vizinhos menos armados. Nessa realidade, o Brasil, rico em recursos e pobre em defesa militar, passa a ser alvo predileto da rapinagem internacional.

Estamos na época das guerras cognitiva, jurídica, comercial e tecnológica. Antes de invadir um país com militares, é mais barato sangrá-lo e enfraquecê-lo, até subjugá-lo; os exércitos de especialistas não precisam sair da sede do invasor, de lá manipulam suas novas armas: desinformação, leis extraterritoriais, sanções econômicas, espionagem, chantagem. Crucial nesta nova modalidade de invasão é criar no país invadido as milícias de infiltrados, que vão trabalhar a favor do invasor.

Contra as armas do invasor nesta nova ordem mundial, a resistência do invadido depende de um atributo: discernimento. Que só pode ser cultivado com uma educação ampla e livre, que ensine a refletir e compreender. Sem isso, a população será presa fácil da guerra cognitiva, que cria fantasmas, ódios, discórdia, subserviência e elege farsantes vendilhões. A população lograda não é capaz de discernir quem é o real inimigo, confunde verdade com mentira, alia-se ao invasor.  Ou, desesperada, cai na depressão e no alheamento.

Há muitas frentes a lutar na resistência à guerra atual pela conquista de territórios ricos e de povos servis. Um requisito capital é a capacidade da população compreender, e assim colocar-se do lado certo na batalha.

domingo, 17 de agosto de 2025

Lei Magnitsky, o tiro no pé do imperialismo

 Publicado no Jornal da Manhã em 19/08/2025

Há ainda brasileiros que acreditam que a Lei Magnitsky dos EUA seja a favor da democracia e liberdade no mundo. Abra os olhos, patriota! Vamos usar discernimento e bom senso. Essa lei é outra legislação extraterritorial do império estadunidense, que visa submeter outros países a seus interesses. Leis que são usadas fora dos EUA, contra qualquer um, cidadão ou nação. O livro “A arapuca estadunidense: uma Lava Jato mundial” (F. Pierucci e M. Aron, Kotter Editorial, 2019) conta como uma dessas leis foi usada para que a General Electric engolisse a francesa Alstom, concorrente mundial na área de construção de usinas nucleares. Com suas leis desleais, os EUA distorcem, manipulam, ameaçam, chantageiam, espionam, torturam para favorecer seus interesses, econômicos ou geopolíticos, pelo mundo todo.

Não nos enganemos, os EUA não são a nação guardiã da democracia e da liberdade no mundo, que se arrogam ser. O “destino manifesto” faz os estadunidenses acreditarem que são predestinados a dominar o mundo, e azar daqueles que discordarem. As bombas de Hiroshima e Nagasaki – maior ato terrorista e genocida da História –, a imposição do dólar como moeda mundial, os golpes, as guerras, sanções e bloqueios impostos contra todos os governos insubmissos ao domínio do Tio Sam, o desvario atual de Trump, taxando inclusive países tidos como alinhados, mostram quem é a águia do Norte. Acuados ao perceber a decadência de seu império e a incontível tendência de multilateralismo no mundo, o antes hegemônico EUA desfaz-se da máscara de paladino da justiça, assume a nação guerreira e opressiva que sempre tentou disfarçar ser.

As punições via Lei Magnitsky de autoridades brasileiras – estas empenhadas em amenizar os efeitos do desgoverno que tentou desviar o Brasil para o autoritarismo, a submissão, o entreguismo e o negacionismo, desgoverno agora julgado pelos seus crimes contra a Constituição –, é outra mostra do desespero do império em decadência. Para tentar convencer que estão agindo em nome da democracia e da liberdade, os EUA contam com aliados de peso: a desinformação via mídias estadunidenses que eles impedem que sejam regulamentadas; os aliados entreguistas locais, cúmplices da rapinagem internacional; a ignorância negacionista imposta à população; o complexo de vira-lata de muitos brasileiros, que não conseguem enxergar o que significam as leis extraterritoriais como a Magnitsky. Traduzindo-as, elas querem dizer o seguinte: “Eu tenho poder militar, econômico e tecnológico, você não. Se você não me obedecer, eu tenho direito de usar meu poder contra você, da maneira que eu bem entender”.

As ações desesperadas do agonizante império hegemônico – não só as leis extraterritoriais, mas também as taxações, as guerras genocidas que patrocinam, os bloqueios e chantagens econômicas, o negacionismo com o aquecimento global e a emergência climática, a desfaçatez com as organizações, acordos e a diplomacia internacional – revelam, afinal, quem são os EUA. Caiu a máscara do império.

A população brasileira – e a mundial – está acordando para discernir quem é quem, e aprendendo a valorizar a soberania nacional, a verdadeira democracia e liberdade.

sábado, 9 de agosto de 2025

Caiu a máscara da hipocrisia

 Publicado no Jornal da Manhã em 12/08/2025.

Os EUA se arrogam ser a nação guardiã da democracia e da liberdade no mundo. Será? Vamos ver. Os EUA nasceram uma nação invasora. Foi assim que construiu seu território de oceano a oceano, tomando as terras do México. Isto depois de exterminar as nações indígenas, sob inspiração do “destino manifesto”, que faz o estadunidense acreditar que esteja predestinado a dominar o mundo. Foi assim durante a Segunda Guerra Mundial, quando esperou anos para engajar-se, agigantando suas indústrias de armas, enquanto Alemanha, Rússia, França, Itália e Inglaterra devastavam-se na Europa. Foi assim quando perpetrou o mais nefasto ato terrorista e genocida da História, as bombas de Hiroshima e Nagasaki. Foi assim quando, terminada a guerra, único grande país que saiu com seu território ileso do conflito, submeteu todas as nações do mundo ao jugo do dólar. Foi assim quando invadiu Coréia, Vietnã, Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria e conspirou golpes no Irã, Chile, Argentina, Brasil, Venezuela, Guatemala, Ucrânia e tantos outros, a pretexto de deter o fantasma do comunismo. Foi assim quando, impedido de invadir, embargou Cuba, Venezuela, Irã, Coréia do Norte, Rússia. Está sendo assim quando patrocina o genocídio na Palestina, a guerra na Ucrânia, o ataque ao Irã.

Agora, com o crescimento da China e a ameaça à cambaleante hegemonia estadunidense, o enlouquecido Trump já não inventa subterfúgios para extravasar a ânsia de dominação do destino manifesto: quer submeter todas as nações do mundo, alinhadas ou não, ao que resta de poderio econômico dos EUA. Organizações internacionais, acordos, alianças já não têm nenhum préstimo. Antes, tinham o préstimo de ludibriar, de mascarar. Já não é necessário ludibriar: as garras da águia são expostas com o indisfarçável intuito de ameaçar e subjugar. É o caos mundial, a desordem intencional, que visa a dominação.

Não se trata só de tentar salvar a decadente supremacia econômica e militar estadunidense, através do comércio privilegiado, da usurpação de recursos naturais, dos embargos, chantagens e tramas comerciais. Também está em jogo a supremacia ideológica do neoliberalismo concentrador de riquezas, contra o socialismo distributivo. Com as tecnologias atuais de informação e desinformação, aprofundou-se a crença do fantasma comunismo ameaçando o planeta. Este tem sido o falso pretexto, agora desmascarado, para invadir o mundo. A guerra cognitiva imbeciliza o senso comum: transforma estadistas em ladrões; milicianos em mitos messiânicos; sistemas econômicos que protegem super-ricos e multiplicam a pobreza em ilusão de liberdade e prosperidade; sistemas que visam a equidade zelada por Estados fortalecidos em mordaças à livre iniciativa...

Adentramos a era da desinformação e da ignorância. A educação, com tantos recursos tecnológicos que poderiam estar nutrindo uma nova civilização, está sendo manipulada para fomentar a intolerância, o medo, o ódio, a idiotice, a violência, a subserviência, a desesperança. A força da renovação e transcendência parece bloqueada pela força do reacionarismo e do obscurantismo.

Talvez essa reação ao progresso da humanidade seja algo natural: toda grande mudança encontra rejeição por parte de muitos. Mas a sina é evoluir. Tem sido assim ao longo da evolução das espécies no planeta. A barbárie que ora prospera é o que vai separar o joio do trigo, e fazer nascer o ser humano lúcido, consciente das fragilidades de si mesmo, de seu próximo e da pródiga natureza.

A superação da hipocrisia, ainda que seja pela indisfarçada assunção da prepotência, pode ser o ponto de inflexão da evolução da humanidade.