Publicado no Jornal da Manhã em 14/11/2024.
Ponta Grossa realiza, nos dias 21 e 22 deste mês, a 5ª
Conferência Municipal do Meio Ambiente, nas dependências da UTFPR-PG. Tendo
sido professor de Meio Ambiente e Sustentabilidade na UEPG por 15 anos, venho
antecipar alguns temas que creio essenciais e que devem ser tratados no evento.
São temas com relevância local, mas que estão estreitamente relacionados com os
temas globais conectados com a emergência climática e suas consequências.
O primeiro tema é a questão dos recursos hídricos. Os
mananciais superficiais dependem das chuvas, estas cada vez mais imprevisíveis.
A água é mundialmente considerada o “ouro azul” do século XXI, crises hídricas
serão inevitáveis. É necessário que o município gestione com firmeza a proteção
de seus mananciais, tanto as bacias
hidrográficas – os mananciais superficiais – quanto as áreas de recarga do
Aquífero Furnas – os mananciais subterrâneos –. As áreas de recarga do aquífero
são as áreas de afloramento do Arenito Furnas, na parte leste do município. No
caso, o que define a extensão da área a ser protegida é a área de ocorrência da
unidade geológica, que ultrapassa o limite da bacia hidrográfica.
O segundo tema, é a proteção e efetiva implantação das
unidades de conservação dentro do município. Destacam-se o Parque Nacional dos
Campos Gerais, a APA – Área de Proteção Ambiental – da Escarpa Devoniana e o
Parque Estadual de Vila Velha. Só não defende as UC’s quem é movido pela
cupidez do lucro rápido e pela desfaçatez ambiental. É a ignorância de ainda
não ter compreendido os vitais serviços ambientais prestados pelas UC’s:
equilíbrio da biodiversidade e controle de pragas e polinizadores;
regularização do ciclo hidrológico e preservação dos mananciais hídricos;
consequente preservação da qualidade e produtividade dos solos agrícolas;
retenção do carbono do solo e da biomassa, redução das emissões de gases estufa
e equilíbrio do clima; proteção de patrimônio natural único para pesquisas
científicas, educação e lazer junto à natureza. No caso de Ponta Grossa, a
proteção das UC’s tem estreita relação com a proteção dos mananciais hídricos,
tanto os superficiais quanto os subterrâneos. Um cuidado capital é que não se
confundam unidades de conservação com destinos turísticos desregrados. A função
ambiental, científica e educacional deve ser sempre prioritária em relação à
função turismo e lazer.
O terceiro tema tem a ver com os arroios urbanos. Urge
saneá-los. Ponta Grossa tem um sítio urbano peculiar: o centro e os principais
eixos radiais da cidade situam-se em áreas elevadas. Deles diverge uma rede
hidrográfica com vários arroios: Grande, Pilão de Pedra, Cará-Cará, Olarias,
Ronda, Gertrudes – afluentes dos rios Verde, Pitangui e Tibagi. Esta
particularidade coloca várias questões: altos bem urbanizados distando poucas
dezenas de metros de encostas e fundos de vale caóticos; várias estações de
tratamento de esgotos, uma para cada arroio. Ademais, a cidade é antiga: a
captação de esgotos amiúde é feita indevidamente na rede pluvial, que os
despeja diretamente na rede de drenagem. Por esse motivo os arroios da cidade
ainda são poluídos, embora se alegue que ela seja uma das mais bem saneadas do
país. É necessário um minucioso trabalho de verificação da destinação correta
dos esgotos.
Que a 5ª Conferência Municipal do Meio Ambiente logre
lançar as sementes de um futuro ambiental sadio para a cidade.