quinta-feira, 4 de março de 2021

O preço do combustível

 Publicado no Jornal da Manhã em 06/03/2021.

O sítio GlobalPetrolPrices mostra que o preço do litro da gasolina na Venezuela no dia 1º de março de 2021 era de U$0,02. Ou seja, R$0,11 pela cotação daquele dia. A mesma matéria do site diz que naquele dia, o preço da gasolina no Brasil era 45,8 vezes o preço na Venezuela, ou seja, R$5,04. Hoje, dia 4 de março, vejo nos postos da cidade de Ponta Grossa, onde moro, que a gasolina já está a R$5,20. A matéria do GlobalPetrolPrices mostra ainda a comparação de preços entre 167 países. O da Venezuela é o mais barato, o do Brasil é o 59º, mais caro que no Equador, Bolívia, Colômbia, Haiti, Porto Rico, Guiana, Guatemala e Argentina.

Analisar a diferença de preço da gasolina entre países que enfrentam situações tão diferentes quanto Brasil e Venezuela não é tarefa simples. A Venezuela tem a maior reserva mundial do ouro negro (300,9 bilhões de barris), o Brasil tem a 15ª (12,7 bilhões, dados de 2018). Mas, fruto do embargo econômico, a Venezuela é só a 13ª produtora mundial, o Brasil é o 8º (dados de 2019).

Apesar de ter produção maior que o consumo, o Brasil exporta e importa petróleo e combustíveis. Isto por razões que também não são simples: refinarias construídas na época em que éramos importadores, não adaptadas para refinar o petróleo produzido no país, e ociosidade das refinarias brasileiras, que operam a 70% de sua capacidade, são algumas delas. Dois problemas que poderiam ser resolvidos, mas, se o fossem, quem ganha com esta situação deixaria de ganhar.

Entretanto, a razão principal do custo do combustível no Brasil é a paridade de preços internacionais (PPI), política adotada pelo governo e pela Petrobras em 2017. O preço passa a ser controlado pela cotação no mercado internacional. Qualquer crise no Oriente Médio, nos EUA, na Rússia, que faça aumentar o preço do petróleo e combustíveis, faz aumentar o preço também no Brasil, mesmo que o preço da produção e refino internos não sejam diretamente afetados. Atualmente o consumidor brasileiro paga pelas crises que possam acontecer mundo afora.

Um fator adicional atrelado à PPI é a cotação do dólar. Os preços internacionais são cotados em dólar. Se o dólar valoriza em relação ao real, vamos pagar mais reais pelos combustíveis. E só nos últimos doze meses o real desvalorizou 21,7% em relação ao dólar, a maior perda entre as 31 maiores economias do planeta, segundo estudos da FGV. E o que controla a cotação do dólar? São os humores do mercado, muitas vezes provocados por mega operações especulativas. Ou simplesmente o fluxo de fuga ou aporte de dólares no Brasil, em resposta a expectativas econômicas e tensão da situação política e social interna. A instabilidade atual no país é, então, outro fator que pesa no aumento do preço dos combustíveis.

Existem soluções: prática de preços internos independente do mercado internacional, operação plena das refinarias brasileiras, estabilidade política e social de modo que a paridade real/dólar volte aos patamares de seis anos atrás. Esta última, com o desgoverno que temos hoje, parece ser a mais inalcançável.

3 comentários:

  1. O chamado "país do futuro" está cada vez mais atolado no passado.
    abs.

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  2. Bom dia,
    O
    Carlos está certo não somos mais o país do futuro.
    Sergio,
    Se o plano fosse erguer o país tudo bem mas eles estão destruindo tudo.

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  3. Marlene Castanho

    O mercado econômico mundial se transformou numa espécie de jogatina. E os ditos "expertos", da nossa política econômica ou não têm noção do q estão fazendo porque não sabem jogar,ou deixam de fazer o certo porque é vantajoso para essa elite que esta no poder simplesmente brincando de casinha. E então, quanto pior melhor, e o povo desse país, rico por natureza, que se conforme, se cale... E se contente com as migalhas q os que estão no poder, vez ou outra, para agradar o povo, deixam cair... Ufa! Mário Sérgio, desculpe o desabafo...

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