Publicado no Jornal da Manhã em 12/04/2023 e no Diário dos Campos em 13/04/2023.
O Parque de Vila Velha em Ponta Grossa, PR, foi
criado em 1953, pelas singularidades naturais lá existentes ─ relevos
ruiniformes nos arenitos, furnas, Lagoa Dourada ─, que muito atraíam
visitantes. Na década de 1970 a vocação natural do parque foi desvirtuada: piscina,
restaurantes, luminárias coloridas, elevador na Furna 1, pista de kart e templo
religioso católico foram alguns dos atrativos oferecidos para trazer
visitantes. Foi a época em que o parque recebeu mais público, e também a época
em que os impactos da visitação descontrolada deixaram mais marcas, algumas
indeléveis.
Só a partir de 1982, com a consolidação do SNUC ─
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza ─ Vila Velha assumiu a
condição de Parque Estadual, unidade de conservação de proteção integral
equivalente ao Parque Nacional, mas, no caso, criada pelo Estado do Paraná, e
não pela União. Como tal, o PEVV tem a visitação pública controlada pelo Plano
de Manejo, destinada a pesquisas científicas, educação e interpretação
ambiental, recreação e turismo ecológico. O Plano de Manejo do PEVV, Portaria
de 2004, define as zonas dentro do Parque destinadas unicamente à pesquisa
científica, bem como as zonas com visitação autorizada e controlada.
Com o tempo, além das singularidades geológicas e
geomorfológicas que justificaram a criação do PEVV, foram se reconhecendo
outros atributos: os remanescentes de campos nativos e matas com araucária, sob
forte pressão de um agressivo entorno de plantio de grãos e florestas exóticas;
a presença de espécies de fauna em extinção, tais como a suçuarana e o lobo
guará; os peixes das furnas, Lagoa Dourada e rios que atravessam o Parque,
principalmente o Guabiroba e o Quebra-Perna; as águas do Aquífero Furnas
visíveis nas Furnas 1 e 2. A pressão do entorno tem ameaçado a preservação dos
biomas nativos do Parque, sobretudo em função de manejo que difere das
condições originais ─ queimadas naturais de tempos em tempos faziam parte da preservação
dos campos nativos ─ e da proliferação de espécies invasoras, como o pinus.
O esforço de adequar o PEVV às normas que regem uma
unidade de conservação de proteção integral incluíram a desativação do elevador
da Furna 1, da capela e dos restaurantes, equipamentos que violam a noção de
conservação da natureza. Aqui vale um alerta: gestores e população precisam
entender que estas restritivas normas têm funções vitais. Entre elas: equilíbrio da
biodiversidade; controle natural de pragas; preservação de polinizadores e
manutenção dos índices de produtividade agrícola; estoque do carbono na
biomassa e no solo; equilíbrio das condições climáticas e ciclo hidrológico; pesquisa
científica e educação ambiental; recreação e turismo ecológico. Essa é a razão
de ser das unidades de conservação. Elas não são um obstáculo ao progresso. Ao
contrário, são essenciais para a preservação da vida saudável, de todos.
O Plano de Manejo do PEVV prescreve que o Conselho
Gestor deve ser consultado para toda decisão a respeito do Parque. Ele é a
primeira instância a ser consultada. Depois vêm COMDEMA ─ Conselho Municipal de
Meio Ambiente ─, COMPAC ─ Conselho Municipal do Patrimônio Cultural ─ e outros
órgãos afins.
Vila Velha é um patrimônio natural. Assim deve ser
compreendida pelo poder público e população, antes que se proponham ações que aviltem
o Parque.
Muito bom!
ResponderExcluirInfelizmente parece que tudo está voltando... os parques de natureza não podem mais ser apenas parques de natureza, de contemplação, de respiro do dia-a-dia na cidade, de contato com a natureza... precisam de atrativos diversos, que causam impactos, barulhos, desvirtuam da finalidade de uma UC.
ResponderExcluirMuito bom texto, Mário.
ResponderExcluirUm artigo de ontem (10/04/23), descreve a inquietação do vereador da cidade com a discussão do Plano de Manejo do PEVV de demolição da Ermida... O vereador não tem ideia do que é uma Unidade de Conservação.
Triste deterioração do meio ambiente . Nós elegemos elementos sem " cultura" que com uma caneta destroem tudo por onde passam. .
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